Os temas quentes de hoje escrevem-se com cores frias e a sociedade está a trabalhar “arduamente em prol do GREEN e da proteção do ambiente”, sem que o problema, ou a sua resolução, interfira muito com as suas necessidades enquanto sociedade – estamos perante um paradoxo de um equilíbrio em claro desequilíbrio.

Para ilustrar vou utilizar o transporte marítimo, por se tratar da forma de transporte mais eficiente e económica, com um custo do processo logístico de um produto muitíssimo baixo. Hoje temos um vessel com capacidade para 24.000 TEUS, em grande contraste com a capacidade do primeiro que era somente de 500 TEUS, pelo que o custo total em peso/distância é, tendencialmente, cada vez mais baixo.

O transporte marítimo é responsável por 85% – 90% do mercado/comércio global e um vessel, na sua maioria, utiliza combustível não refinado. Este deve ser o ponto de partida para melhorar o processo e não para destruir o mercado. Hoje, as maiores empresas do mundo já promovem o transporte marítimo com recurso a combustíveis GREEN e estou certo de que este será o caminho desde que o consumidor também assuma o seu papel nesta promoção e processo de decisão.

A IMO – Organização Marítima Internacional, promoveu uma estratégia de redução de gazes no shipping, indicando uma data limite para atingir o objetivo de reduzir 50% até 2050 quando comparada com dados referentes a 2008. A IMO implementou também níveis de referência para cada tipo de vessel, com reduções de 3.5% para 0.5%, em águas internacionais. Foram desenvolvidos programas de energia, de forma a promover a utilização de combustíveis alternativos e neste momento existem vários: LNG, Biofuel, LPG, E-fuel, Hidrogénio, entre outros em estudo.

O problema GREEN estará no CO2, a primeira causa para o aquecimento global. O CO2 é resultado da energia que qualquer meio de transporte necessita para se fazer transportar, pois no caso do vessel tem o nome de Green House Gas – GHG. Quando ouvimos falar de GHG temos de ter em atenção se os valores dizem respeito a WTW (Well To Wake) ou TTW (Tank To Wake), e isto fará uma grande diferença na avaliação da informação, porque o WTW é o CO2 produzido em toda a cadeia de produção do combustível utilizado no vessel, desde a sua extração até à queima do combustível em águas internacionais, enquanto que o TTW é apenas o CO2 libertado pelo vessel.

Atualmente, o transporte marítimo, na relação peso/distância, polui menos 50 vezes do que o transporte aéreo e menos 10 vezes do que o transporte rodoviário, isto em termos genéricos e com valores médios. Na prática, a compra que fiz na loja ou que recebi em casa, se veio de vessel poluiu menos 50 vezes do que se viesse por transporte aéreo e menos 10 vezes do que se o fizesse através do transporte rodoviário. Mas não podemos esquecer que o first mile e o last mile será sempre rodoviário, e se pretendermos um transporte mais seguro e mais rápido teremos de recorrer ao transporte aéreo. Estamos outra vez no paradoxo de um equilíbrio em claro desequilíbrio.

O tema GREEN não se esgota em si próprio.

Precisamos de percorrer o caminho necessário rumo ao GREEN cada vez mais verde.

Henrique Germano Cardador, Analista de Estratégia Empresarial