Há cerca de um ano as empresas começaram a sentir um grande impacto na sua actividade e precisaram de adaptar as suas cadeias de abastecimento às situações vividas aquando da chegada da pandemia, tendo os sectores da alimentação e do retalho tido um papel importante nesta fase.

David Lacasa, partner da consultora Lantern, explica que o processo de preparar os retalhistas em Espanha para a pandemia, foi complexo para todos uma vez que foi inesperado. Como os consumidores, no início da pandemia, compraram produtos a mais por receio de falta de stock, o que levou a menores consumos domésticos, fez com que os retalhistas e os fabricantes tivessem de trabalhar em conjunto para que nada faltasse nas prateleiras. O responsável confessa que em algumas categorias, os retalhistas recorreram a novos fornecedores apenas porque eram os únicos com produto no armazém: “mais do que a variedade, passou a ser o stock em si”.

Depois foi-se ampliando gradualmente o stock dos produtos mais básicos enquanto voltava a haver mais variedade, à medida que os novos processos de abastecimento se tornaram normais.

O mesmo aconteceu com clientes ao nível da indústria, em que a preocupação foi ter os produtos mais básicos disponíveis, em vez da variedade. “Ao mesmo tempo, para algumas marcas, o problema começou a ser o abastecimento de certas matérias-primas. Neste aspecto, as marcas aumentaram o grupo de fornecedores para ter maior segurança ao nível do fornecimento. O supply passou de procurar eficiência nos custos para procurar segurança”, conta David Lacasa.

Em Portugal o cenário foi “muito similar”. No estudo que a Lantern realizou sobre o impacto da COVID-19 no sector agro-alimentar, feito em cinco países do sul da Europa, o que mais despertou à atenção foram as parecenças entre todos os mercados analisados. Segundo o partner da empresa, “a farinha e os legumes faltaram em todos os mercados da mesma forma. O comportamento de compra dos consumidores e a resposta da indústria também foi muito parecida em todo o Sul da Europa”.

A pandemia gerou uma grande proximidade entre o retalho e os fornecedores, o que ajudou a fortalecer as suas relações. “Assim mesmo, a digitalização também foi um factor que se tornou muito mais relevante neste ponto”, uma vez que a integração de sistemas entre o retalho e os fabricantes se mostrou como um problema durante este tempo, sendo então importante elevar este tipo de soluções.

Face à possibilidade de existir uma maior aposta em fornecedores nacionais ou até locais, o responsável refere que a transição de um fornecimento focado no custo para outro mais focado na segurança do fornecimento foi uma das transformações geradas. “Retalhistas e fabricantes têm agora mais fornecedores do qua antes da pandemia, e isso vai continuar assim. O custo não será o único factor para escolher um fornecedor”, afirma. Ainda assim, os fornecedores locais “ganharam alguma vantagem sobre os outros que estejam mais longe, mas existem produtos que têm de ser importados e não podem ser fornecidos localmente. Isso não vai mudar”.