Estão a ser analisadas pelos investigadores novas formas de armazenar vacinas contra a COVID-19 com o objectivo de ultrapassar a exigência de uma cadeia de frio, que dificulta a distribuição do fármaco em vários pontos do mundo, segundo noticiou a Lusa.

Em causa estão as vacinas à base da tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como as da Pfizer e Moderna, que apresentam um período de vida útil de algumas horas caso não estejam armazenadas em temperaturas muito baixas. A vacina da Pfizer precisa de ser mantida a -80ºC para armazenamento de longo prazo, e a da Moderna a -20ºC.

No dia 26 de Março a Agência Europeia do Medicamento (EMA) autorizou o transporte e armazenamento temporário de frascos da vacina da Pfizer, durante duas semanas, entre os -25ºC a -15ºC, as temperaturas dos congeladores, tornando mais fácil a distribuição do fármaco. Esta é, segundo a EMA, uma “alternativa ao armazenamento a longo-prazo das ampolas a uma temperatura entre -90ºC a -60ºC em congeladores especiais”.

De acordo com a MIT Technology Review, a revista online do Massachusetts Institute of Technology, as necessidades de armazenamento a temperaturas muito baixas constituem um constrangimento adicional, aliado à falta de vacinas em lugares com dificuldades logísticas onde o acesso a contentores de ultracongelação, ou electricidade, ainda é escasso. Segundo esta publicação, as empresas farmacêuticas têm testado várias soluções para os seus fármacos enquanto as equipas de cientistas estão a testar outras formas logísticas de assegurar a estabilidade de temperatura das vacinas de mRNA.

“Quanto mais termoestável uma vacina ou produto farmacêutico for, melhor” porque permite “retirar a pressão da cadeia de frio” avança Pat Lennon, quem lidera a equipa da rede de frio da PATH, uma organização que se dedica à criação de condições de igualdade na área da saúde global. Esta organização tem vindo a desenvolver métodos de controlo da temperatura para a distribuição de vacinas, como a criação de adesivos que mudam de cor com o aumento do calor, uma informação que ajuda a reduzir o desperdício de doses, pois se um congelador apresentar danos, a equipa médica não precisa de presumir que as vacinas estão estragadas. Mais de 9 mil milhões destes adesivos ajudaram na distribuição de várias vacinas em todo o mundo e, conforme as vacinas contra a COVID-19 forem sendo distribuídas em mais países, será outra maneira de garantir temperaturas adequadas, segundo o MIT Technology Review.

Relativamente aos contentores refrigerados, uma das soluções pode passar por um equipamento desenvolvido em 2009 pelos engenheiros da Fundação Bill e Melinda Gates, nos Estados Unidos, para uso em locais com reduzidas infraestruturas para suportar uma rede de frio exigente. O resultado foi o Arktek – um super-contentor térmico destinado a refrigerar vacinas ou outras amostras biológicas, que funciona com gelo seco ou com uma mistura de água e etanol. “Se tivermos 450 frascos, eles ficarão refrigerados por três a quatro semanas, enquanto 750 frascos podem permanecer no período máximo duas semanas”, avançou Daniel Lieberman, investigador do Arktek no GHLabs, uma organização sem fins lucrativos criada pela Fundação Gates.

Este dispositivo foi testado pela primeira vez em 2014, quando o ébola atingiu várias aldeias de África Ocidental, com a vacina disponível na altura a necessitar de uma refrigeração de -80ºC. Quando o Arktek foi implantado no terreno em 2015, desempenhou um papel importante na vacinação de 8.000 pessoas e ajudou a interromper o surto de ébola, adianta ainda a publicação. Desde então, as cerca de 3.000 unidades permaneceram em países africanos, adiantou Daniel Lieberman, sendo usadas para armazenar vacinas de rotina para doenças como sarampo, poliomielite e hepatite.

Cerca de 1.000 novas unidades foram fabricadas especificamente para a distribuição de vacinas COVID-19, que serão enviadas para países do Sul e Sudeste da Ásia, do Médio Oriente e da América Latina. “A cadeia de frio sempre foi um problema para a distribuição de vacinas e só é ampliada agora porque a pandemia faz com que seja tão crucial vacinar todos os cantos do globo o mais rápido possível”, salientou Deborah Fuller, microbiologista da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, citada pela MIT Technology Review.