O transporte, elemento fundamental das cadeias de transação de bens, está à beira de uma transformação digital que promete mudar a sua realidade e das empresas que saibam explorar o seu potencial. Abordemos então algumas dessas áreas mais promissoras.

Condução Autónoma
A Condução Autónoma é, incontornavelmente, uma tecnologia que prende o nosso imaginário e que promete transformar radicalmente a indústria. É algo que se tem falado de forma crescente, especialmente a partir de 2016, muito pelo destaque da Waymo (Google/Alphabet) e Otto (Uber) que se apresentavam como as mais promissoras na área. Desde então, algumas outras empresas têm partilhado desse protagonismo, como a como TuSimple e Daimler mas apenas uma coisa é ainda clara – ainda é cedo para apontar uma empresa, tecnologia ou modelo vencedor.

Começaremos com rotas bem definidas e controladas, possíveis de mapear digitalmente, tais como autoestradas? Ou iremos atacar diretamente a última milha? Há apostas e empresas em cada um do espectro e milhares de kms a serem percorridos diariamente para desenvolver estas soluções piloto.

As vantagens parecem ser, para já, o ponto mais claro desta digitalização. Poderemos esperar custos de transporte mais competitivos pela redução do custo de mão de obra e aumento da taxa de utilização dos ativos – camiões, reboques e restante infraestrutura. Por outro lado, reduzindo o impacto dos horários de condução, os transportes de médio/longo curso, tornar-se-ão mais rápidos. Aliando estas duas últimas vantagens de transportes mais baratos e rápidos, empresas poderão abraçar novos mercados pela forma competitiva e rápida que conseguirão colocar os seus produtos em novas geografias.

Este último ponto é especialmente interessante para Portugal. Noutra perspetiva, sendo que o transporte de última milha é desproporcionalmente mais dispendioso, a Condução Autónoma poderá ajudar ainda mais a aceleração do e-commerce.

A segurança tem sido uma das maiores preocupações relativamente à aplicação da Condução Autónoma, nomeadamente pelo paralelismo que tem sido extrapolado dos acidentes verificados nos veículos ligeiros. No entanto, estabilizada a tecnologia, é expectável que o Transporte de Mercadorias possa ser tão ou mais seguro do que a condução por humanos.
Por último, há a considerar o enorme impacto social pela necessária adaptação dos motoristas, uma grande e especializada força de trabalho, a uma nova realidade e tecnologia. Como referência, apenas nos EUA, dois milhões de pessoas trabalham na condução de camiões e ainda não é claro qual será o seu papel num futuro autónomo.

Estamos, portanto, ainda numa fase muito promissora mas ainda embrionária, devemos pois acompanhar de perto e tentar antecipar o que poderão ser as grandes transformações que daí advirão pois as recompensas serão, indubitavelmente, muito grandes.

Integração em Tempo Real
Cadeias de Logística são, desde sempre, tão mais eficientes quanto integradas. E temos crescido muito na tecnologia de suporte, porém na área de Transportes, há ainda um grande percurso a percorrer quanto à Integração em Tempo Real.

Hoje 94% dos expedidores de mercadorias não têm visibilidade das suas mercadorias. No entanto, estima-se que a sua integração traduz-se num aumento de 10% do nível de serviço das entregas.

É ainda comum que o tempo de inatividade de um processo de transporte totalize quatro horas de espera para carga ou descarga. Sabendo que 51% dos custos de transporte são fixos, estas ineficiências acumulam-se e repercutem-se em toda a cadeia logística.

Ferramentas de posicionamento GPS estão, de forma geral, disseminados entre a maioria das empresas transportadores mas é necessário conseguir integrar esses dados de forma estruturada e de valor acrescentado na cadeia de logística para quem expede e quem recebe as mercadorias.

Sem esta integração, o transporte continuará a ser um processo desconexo e suboptimizado na cadeia de valor. Aqui os maiores obstáculos são a elevada dispersão e fragmentação de soluções no mercado e falta de uma linguagem comum entre sistemas. Como resultado desta multiplicidade de soluções e linguagens, continuamos pouco integrados e, como tal, a trabalhar aquém do potencial possível de aportar.

Assim, a Integração dos transportes em Tempo Real é uma das áreas com maior potencial disruptivo para as Cadeias de Abastecimento e que maiores benefícios poderá aportar de forma transversal.

Marketplace Digital
Na UE, 21% dos camiões viajam em vazio. Surpreendentemente, a ineficiência não fica por aí. Se considerarmos a volumetria total disponível por transporte, então o potencial é muito maior ainda. Por outro lado, há uma grande fragmentação das empresas de transportes e, tendo como exemplo o mercado americano, 91% das empresas opera menos de 6 veículos e 97% menos de 20 veículos.

É neste contexto que o Marketplace Digital poderá ganhar relevância – desafiar o modelo atual de criando uma ligação entre expedidores e transportadores de forma dinâmica que permita reduzir as viagens e volume em vazio e que se traduza no impacto no custo de transporte e pegada ambiental. Por outro lado, que esse Marketplace integre já digitalmente a Cadeia de
Abastecimento. Como referência, no mercado internacional há já algumas empresas a explorar este modelo e em Portugal temos já a Uber Freight a desafiar a indústria.

Estão lançados os dados e será seguramente muito interessante ver quais serão os modelos e tecnologias vencedoras nos próximos anos. Mas haverá próximas batalhas que se advinham igualmente interessantes e inovadoras – Big Data, Análise Preditiva, Machine Learning, IoT. Como no cinema, To Be Continued…

José Moreira, Supply Chain & Operations Director