Transformar a indústria da moda do seu modelo de ‘pegar, fazer e desperdiçar’, para um modelo circular em que os materiais são continuamente reciclados, é considerado o ‘Santo Graal’ da sustentabilidade, de acordo com um artigo da Forbes.

Com o consumo global de roupas projectado para aumentar em 63%, para 102 milhões de toneladas em 2030, e um aumento dos envios de roupas para aterros sanitários (a fundação Ellen MacArthur relata que 500 mil milhões de dólares são perdidos todos os anos devido à subutilização de roupa e à falta de recilagem), alcançar a circularidade está a tornar-se ainda mais crítico.

O foco das marcas de moda, até agora, tem sido em iniciativas mais isoladas, como encorajar os consumidores a consertar e a vestir as suas roupas por mais tempo, revendê-las, alugá-las e reciclá-las. O crescimento projectado da indústria da moda, as emissões resultantes e a criação de resíduos tornam uma solução da indústria da moda circular em escala, um imperativo ambiental urgente.

O grupo finlandês Infinited Fiber Company liderou uma oferta bem-sucedida, de mais de seis milhões de financiamento de pesquisa e inovação da União Europeia, para formar um consórcio, com o objectivo de criar um projecto circular da indústria da moda. O financiamento apoia os 12 membros do consórcio do New Cotton Project, abrangendo a Finlândia, Suécia, Alemanha, Holanda, Portugal, Eslovénia e Turquia para trabalharem juntos na gestão de resíduos, reciclagem, retalho e fabrico, definindo um novo sistema de moda circular e um modelo de negócios a que pretendem que todo o sector adira – e uma redução significativa no desperdício da moda e no impacto ambiental.

Uma grande novidade sobre este projecto é que une empresas que competem no mercado, mas também reconhece que a colaboração é necessária para alcançar a circularidade ao nível da indústria. Os gigantes Adidas e H&M são parceiros neste projecto e trabalharão juntos para facilitar “a escala e o volume necessários para testar adequadamente esta ‘tecnologia’”, disse o CEO da Infinited Fiber, Petri Alava.

Durante os 3 anos do projecto, a Infinited Fiber fornecerá três toneladas das suas fibras de carbamato de celulose à H&M e à Adidas, para uso nas suas fábricas e de fabricantes parceiros, à Inovafil, Tekstina e Kipsa, que já actuam nas cadeias de fornecimento das marcas. A H&M e a Adidas obterão feedback do consumidor sobre os produtos ao longo do seu ciclo de vida, bem como sobre as formas de devolução que alimentarão os produtos nas instalações de classificação, e de lá, para a matéria-prima de reciclagem química ou canais de revenda, dependendo da qualidade da roupa.

No lado do manuseio e processamento de resíduos, vários colaboradores do consórcio conduzirão a recolha e análise contínua de dados para definir novos fluxos de trabalho e processos necessários para fornecer circularidade em escala. A Frankenhuis, sediada na Holanda, seleccionará e pré-processará os resíduos têxteis, enquanto a Universidade de Ciências Aplicadas do Sudeste da Finlândia desenvolverá uma solução técnica para o processamento contínuo de fibras de resíduos têxteis para pré-tratamento. O papel da REvolve Waste’s é recolher e gerir dados de resíduos têxteis para fazer uma estimativa da disponibilidade de matéria-prima na Europa e definir o grau dos resíduos têxteis usados.

No lado do consumidor e retalho de negócios, o instituto de pesquisa da Suécia, o RISE, conduzirá as análises de sustentabilidade e técnico-económicas junto com a Infinited Fiber Company, além de gerir a rotulagem ecológica para o projecto. A Universidade Aalto da Finlândia analisará o ecossistema resultante do projecto e os modelos de negócio circulares num nível mais macro, com o objectivo de definir o modelo de negócio mais viável.

Durante uma conversa com a professora Kirsi Niimimaki da Aalto University, abordou-se o papel na liderança da “construção do ecossistema”, onde se criará maneiras de os membros do consórcio partilharem informações dentro de uma estrutura co-dependente e colaborativa que define a criação de valor além do dinheiro, “acreditamos fortemente que, quando mudamos para sistemas circulares, a cadeia de abastecimento precisa de ser muito mais transparente, precisamos de muito mais informações. Se for possível construir este sistema de dados transparente, essas informações podem ser parte do negócio e parte do sistema de preços”.