Em média, Portugal desperdiça cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano, a maior parte proveniente dos consumidores. A Renascença procurou informar-se junto da Associação de Empresas de Distribuição (APED) e do Banco Alimentar Contra a Fome sobre este tema que toma maiores proporções nestes tempos de maior dificuldade, e partilhou os testemunhos.

Gonçalo Lobo Xavier, director-geral da APED, explica à fonte que “os estudos indicam que no retalho, a distribuição é responsável por 5% do total de desperdício alimentar, já os consumidores domésticos são responsáveis por 42%”, acrescentando que “não podemos ter na loja produtos em fim de vida que, do ponto de vista legal e do ponto de vista da qualidade alimentar, não cumpram os requisitos necessários”.

De acordo com o responsável, os supermercados são obrigados a adoptar práticas muito exigentes para assegurar a qualidade alimentar dos produtos e a saúde dos consumidores, e admite que “há produtos que não estão, do ponto de vista comercial, disponíveis para serem apresentados em loja e têm a qualidade suficiente para serem consumidos e doados”.

Apesar de serem cada vez mais as medidas que o retalho toma para combater o desperdício alimentar, nomeadamente através da venda de produtos em final de prazo a preços reduzidos ou no aproveitamento dos chamados “legumes feios” para sopas, os números ainda não são satisfatórios, e a existência de uma ponte de transporte reforçada entre estes elos poderá ser uma solução para combater este desperdício.

Gonçalo Lobo Xavier justifica o facto de não chegarem mais “sobras” dos supermercados a famílias portuguesas carenciadas devido a uma carência no voluntarismo. “Há cada vez mais voluntários junto das Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS) para levantar os produtos nas nossas instalações. Temos muitos protocolos com estas instituições, mas também verificamos que nem sempre há o voluntarismo das pessoas para fazer chegar, em tempo útil, os produtos às famílias mais necessitadas”, afirma o responsável.

Por parte do Banco Alimentar Contra a Fome, a presidente Isabel Jonet conta que o problema não está na falta de voluntários, mas nos horários de recolha: “as cadeias de distribuição, os supermercados fecham às 21h00, quase todos à mesma hora, há ainda os hipermercados que encerram mais tarde e a essa hora a maior parte das instituições de solidariedade social já está encerrada”.

Segundo a responsável, muitas das vezes “estamos a falar muitas vezes de produtos perecíveis, como o pão, os bolos, fruta já madura, legumes que já não podem ser vendidos e todos estes produtos requerem um cuidado, seja na sua angariação seja depois na sua distribuição”, e que “mesmo havendo boa vontade de voluntários, há aqui um desajuste entre as horas a que se pode recolher os produtos e aquelas em que estes produtos podem ser distribuídos e entregues”.