O primeiro painel de debate da Procurement Digital Conference trouxe a palco o tema da própria conferência: “E agora… o que vem aí para o Procurement?”. Procurando acompanhar o estado do sector neste momento em que a pandemia criou um claro clima de incerteza, o objectivo foi de alguma forma  antecipar o futuro – se é que isso é possível ou, pelo menos, reter algumas ideias-chave, linhas orientadoras, para o que ainda está por vir.

Connosco estiveram Luís Sena de Vasconcelos, Purchasing Director da Central de Compras Comp-RAR, João Correia Botelho, Procurement, Corporate Real Estate & General Services Director da REN e Presidente da APCADEC), Luís Lobato, Facility and Supply Chain Manager da Randstad, e Nelson Pinto de Magalhães, Head of Corporate Iberia da Vortal Connecting Business, sob a moderação de Alexandra Azevedo, Managing Partner da Quay Procurement Consulting. Lamentavelmente, e por questões técnicas, Susana Guerreiro, Director of Procurement da Finlog, contrariamente ao que estava anunciado e previsto, não conseguiu juntar-se à conversa.

João Correia Botelho inicia a conversa pegando no ponto de vista dos fornecedores, e que as empresas têm uma responsabilidade acrescida de cuidar dos seus fornecedores parceiros, pois trata-se de um momento crítico para estes.

Segue-se Nelson Magalhães, que concorda com a ideia defendida anteriormente. Acrescenta que “os próprios fornecedores estão na viagem connosco”, e fala das práticas de solidariedade das empresas para com os fornecedores e de antecipação de pagamentos de modo a auxiliá-los.

Também em concordância com os que se antecederam, Luís Lobato acrescenta que é possível dar suporte aos fornecedores através de estratégias win-win. Fala ainda sobre a estratégia de desafiar os fornecedores a avançar para novos serviços, diferentes daqueles que estão habituados a fornecer, e que possam surgir nesta altura como forma de acrescentar valor. “A redução de custos foi inevitável, mas nós, fornecedores, empresas e compradores, temos a obrigação de suportar a responsabilidade económica de todo este ciclo da cadeia de valor”.

A Comp-RAR tem vindo a apostar nas parcerias, e Luís Sena de Vasconcelos fala na preparação das equipas e equipamentos, antecipar as necessidades que virão surgir e, ao nível dos fornecedores, é necessário procurar perceber em que ponto eles se encontram de modo a entender o estado da sua cadeia, concordando com a criação de situações win-win referidas por Luís Lobato.

“Conseguimos perceber de uma forma muito positiva que as empresas, do lado das compras, porque temos um painel de compradores, demonstram uma grande preocupação pelo bem-estar dos seus fornecedores, não só no curto prazo, mas no médio prazo, e falaram-se de medidas como a antecipação de pagamentos”, comenta Alexandra Azevedo.

Ao nível da profissão, Nelson Magalhães defende a ideia de que “sempre foi muito difícil para o Procurement ganhar um lugar à mesa”, uma realidade que explica ser comum entre os próprios clientes por muitas empresas “ainda não terem o Procurement muito profissionalizado”, e que a pandemia serviu como “uma catapulta para o Procurement”, que veio reduzir custos, renegociar, e no fundo, salvar a tesouraria. Posto isto, afirma que o COVID-19 “deu, e está a dar, uma oportunidade ao Procurement para se sentar à mesa e definir algumas estratégias”.

João Correia Botelho, pela experiência na REN, concorda com o impulso que o Procurement levou neste momento da pandemia, e também olha para o lado da gestão de risco de fornecedores. No seu ponto de vista, na altura as empresas não sabiam o que era comprar máscaras e álcool-gel, mas com o tempo foram-se adaptando a essa realidade.

“Tivemos de aprender”, acrescenta mesmo Alexandra Azevedo.

Luís Lobato retoma a expressão utilizada por Nelson Magalhães e concorda que isto trouxe “um lugar à mesa” para o Procurement, apesar de forçado, e que “obrigou o Procurement a mostrar aquilo que valia e aquilo que seria o valor que podia acrescentar à organização”. Defende que o Procurement será sempre uma área de suporte, e que por isso deve ser parte integrante do comité estratégico da empresa, com um assento permanente. O próximo passo é tentar prever quais as necessidades futuras dentro das áreas de negócio, “portanto o lugar à mesa eu acho que existe, agora temos de mostrar o nosso valor”.

Luís Sena de Vasconcelos considera que um dos principais pontos se prende com a gestão de risco, que obrigou as empresas a olhar para os planos de contingência de que dispunham, e as estratégias de gestão de risco de fornecedores e de serviços e perceber a importância que tem para a sua actividade. Comenta ainda o reforço sentido na posição do Procurement, e da agilização dos processos, especialmente ao nível dos processos, fosse através da própria digitalização ou da implementação de assinaturas digitais, por exemplo, acelerando muitos processos que geralmente demoravam algum tempo.

João Correia Botelho comenta ainda sobre a resiliência que o sector mostrou e a desburocratização que se sentiu no sector, concordando que ainda há algum caminho a percorrer.

Nelson Magalhães explica que procuraram dar suporte aos seus clientes, nomeadamente ao nível da procura por fornecedores de EPI’s, e sentiram um grande aumento na utilização das ferramentas de que dispunham na plataforma Vortal. “Muita coisa mudou, muita coisa continua a mudar, e muita coisa vai continuar a mudar. A mudança não pára aqui, a única certeza que temos é que vai continuar a mudar, bastante, e há uma reacção e uma estratégia de Procurement que têm de ser feitas”, comenta.

Os próximos tempos
Luís Sena de Vasconcelos avança que a Comp-RAR está e vai continuar a investir, tanto na formação das pessoas como nas parcerias estabelecidas entre as empresas, porque “são um ponto fulcral na nossa actividade e só se estivermos muito próximos dos fornecedores vamos conseguir garantir a sustentabilidade dos negócios no curto, médio e longo prazo”.

Por sua vez, por parte da Randstad, Luís Lobato não diria reinventar o modelo de Procurement, mas sim tentar adaptar ao que é a nova realidade, e considera que mais importante do que a adaptação dos modelos tradicionais para os digitais é a conciliação dos fornecedores principais do negócio, a curto prazo, e conhecer a cadeia de valor end-to-end, para perceber se eles se encontram numa localização de risco, ou se os seus fornecedores se encontram nessa situação.

Ao nível da responsabilidade social, João Correia Botelho apela a que as empresas tenham cuidado com a forma como lidam com os seus fornecedores e que é importante apoiarem-se uns aos outros para que ambos consigam cumprir os seus objectivos, ao invés de “esmagar alguns pequenos fornecedores”.

Nelson Magalhães termina reforçando a ideia de que é importante conhecer melhor os fornecedores, “ver quem é que vamos salvar, ou seja, da supply chain deles, conhecer, trabalhar e ver como é que estes fornecedores conseguem ser estáveis”, e acrescenta que devemos encontrar novos fornecedores para os que hoje aparentam ser um risco, reduzindo-o, ao contar com um maior número de fornecedores e procurando inclusive inovar.