Quando ocorrem estes acontecimentos de elevado impacto, as cadeias de abastecimento enfrentam um desafio único para manter as suas operações em níveis aceitáveis. Mas mesmo em acontecimentos tão disruptivos como os que vivemos, poderá haver oportunidades para o outsourcing logístico, como importantes contributos para a mitigação dos riscos de contágio nas cadeias logísticas dos seus Clientes.

Um Operador Logístico (3PL – Third Party Logistics) utiliza os seus ativos, como equipamentos, instalações, recursos humanos e know-how, como um prestador de serviços para a gestão integral ou parcial da operação logística do seu Cliente, personalizando soluções de acordo com o mercado ou tipo de produto deste.

Os vários autores e o próprio setor, distinguem 4 tipos de operadores logísticos:

  • Standard 3PL: faz a operação das atividades mais básicas da logística do Cliente, como receção de mercadorias, preparação dos pedidos e transporte, e pouco se distingue no seu serviço entre os vários clientes.
  • Service Developer: oferecem já serviços de maior valor acrescentado além da mera manipulação de caixas e transporte e procuram economias de escala para rentabilizar o tipo de serviços especializados que apresentam.
  • Customer Adapter: é o Operador Logístico que assume o controlo total da Logística do Cliente, melhorando o patamar do nível de serviço, mas raramente desenvolve novas soluções para o Cliente.
  • Customer Developer: é o tipo de 3PL que atinge uma total integração com a Logística do Cliente e desenvolve em parceria novos processos para a sua cadeia de abastecimento.

Os vários intervenientes das diferentes cadeias de abastecimento, conhecem as vantagens e desvantagens da decisão do outsourcing logístico, das quais realço alguns pontos que me parecem relevantes.

Vantagens:

  • Maior eficiência operacional: a terciarização das funções logísticas irá sobretudo libertar a empresa Cliente da carga operacional da distribuição e assim dedicar uma grande parte dos seus recursos ao crescimento do seu negócio base e melhoria da rentabilidade.
  • Redução dos custos operacionais: em conjunto com a melhoria do serviço, a decisão de outsourcing tem de representar uma redução dos custos logísticos, claramente identificada em comparação com a manutenção da operação própria. Os operadores logísticos que conseguirem alcançar economias de escala entre a sua carteira de clientes, podem também oferecer os seus serviços a um custo mais baixo daquele que a empresa teria, se operasse a sua própria logística.
  • Maior flexibilidade na cadeia de abastecimento: a capacidade de resposta deverá apresentar-se como uma importante vantagem para o outsourcing, tendo em vista uma rápida adequação às exigências do mercado.

Inconvenientes:

Tal como existem vantagens claras na terciarização logística, este tipo de acordo também pode apresentar algumas desvantagens. Uma das principais, é a perda de controlo que o Cliente poderá verificar ao atribuir a gestão da sua cadeia ou determinados processos a um novo parceiro. Como parte do acordo, o Cliente poderá sacrificar algum do controlo que tinha sobre a sua operação, sem que isso signifique perda de eficiência. A gestão do fluxo de informação e a integração dos sistemas informáticos, são outra das áreas que são apontadas como os mais desvantajosos do outsourcing. Para melhorar a natural fricção que se possa desenvolver na troca de informações, então ambas as empresas (Cliente e 3PL) devem perseguir um maior grau de sincronização entre os seus sistemas e de informação entre as suas operações. Por último, os benefícios do outsourcing dificilmente serão atingidos, se o Operador Logístico não conhecer o negócio do seu Cliente nem estiver identificado com os efeitos das ineficiências na cadeia logística, para o cliente final, que sustenta a parceria.

Chegados à crise pandémica que vivemos, para o setor dos Operadores Logísticos será importante a identificação de quais as oportunidades que a nova realidade pode colocar e quais as soluções orientadas que para o Cliente permita mitigar os efeitos desta crise na sua cadeia de abastecimento.

Destaco alguns contextos que me parecem vitais nesta fase:

  • Concentração no serviço de processos vitais: para evitar o risco de contágio, as empresas tiveram de aligeirar alguns dos seus processos logísticos e desta forma o Operador pode concentrar-se em melhorar as atividades vitais do Cliente.
  • Contribuição para o distanciamento social: o Operador Logístico irá ganhar forte vantagem ao assegurar que as suas equipas, ambiente, equipamentos, etc., estão altamente protegidos, numa espécie de “bolha”, permitindo auditorias do Cliente, trabalhando em conjunto no desenho dos seus Planos de Contingência e mesmo, desenvolver projetos de certificação de segurança, junto de organismos oficiais.
  • Gestão de Riscos: o Cliente terá uma mais-valia acrescida, se o seu parceiro desenvolver uma estrutura de gestão de riscos conduzindo uma avaliação de riscos permanente da sua própria cadeia de abastecimento.

Até esta crise do COVID-19, as cadeias de abastecimento dos vários distribuidores adotaram processos logísticos de elevada complexidade com retorno sustentado de eficiência e redução de custos. As relações de parceria serão seguramente um meio de compensar os novos investimentos em Segurança que esta crise nos desafia.

Manuel José Gomes
Consultoria Logística e distribuição