As minas de Moncorvo vão impulsionar a retoma da Linha do Douro para o transporte de mercadorias ainda este mês, segundo avança o Dinheiro Vivo, através do envio de até 1.400 toneladas de ferro por dia para o Porto de Leixões, tendo como destino o mercado europeu. A Æthel Mining, empresa que concluiu a compra da MTI – Ferro de Moncorvo, S.A. em Fevereiro deste ano, é a responsável pela estratégia da segunda maior jazida de ferro da Europa.

A fonte também avança que esta operação também é vista como mais um motivo para reabrir a linha ferroviária até à fronteira com Espanha. Ricardo Santos Silva, co-fundador da Æthel Mining, comenta que “logo que estejam reparados os caminhos de acesso à área de exploração, que prevemos durante o presente mês, serão deslocados, para aquela área, os equipamentos e maquinaria e terá início a extracção e transformação do minério”.

Nos últimos anos, a movimentação de mercadorias nesta linha tem sido “praticamente residual”, adjectiva a fonte, encontrando-se limitada ao transporte de vagões de cimento com origem num entreposto da Secil.

Partindo das minas de Moncorvo, o mineral será transportado por via rodoviária até à estação de comboios de Pocinho, em Foz de Côa, seguindo-se para o Porto de Leixões por via ferroviária, através da Linha do Douro, passando ainda pela concordância de São Gemil, que assegura a ligação com a restante rede ferroviária nacional. Chegados a este destino, o ferro será colocado em navios graneleiros e enviado para portos na Europa.

Numa primeira fase do projecto, irá ser possível movimentar até 1.400 toneladas de ferro por dia, através de duas circulações de 700 toneladas cada, a capacidade máxima da linha ferroviária, considerando que não há corrente eléctrica entre Marco de Canaveses e o Pocinho, e que até ao final de 2023 só está prevista a electrificação do troço entre Marco de Canaveses e Régua. No final de Junho houve já um ensaio de formação para maquinistas por parte da Takargo, empresa responsável pelo transporte ferroviário dos minérios.

A Æthel Mining prevê a produção de 300 mil toneladas de agregado de ferro, designado de ‘muadense’, até ao final deste ano. Este minério, natural, tem quase o dobro do peso de outros materiais convencionais utilizados na produção de botões, sendo cada vez mais procurado a nível internacional devido à sua utilização para a construção de molhes, quebra-mares e outras grandes estruturas devido à subida do nível do mar provocada pelas alterações climáticas.

Espera-se que numa segunda fase do projecto seja feito um investimento de 60 milhões de euros, que só avançará com apoio europeu, para complementar o transporte ferroviário com o fluvial, através de obras de qualificação do canal navegável, “sobretudo entre o Pinhão e Pocinho”, refere à fonte Ricardo Santos Silva, permitindo assim a circulação de navios maiores neste troço.

O novo presidente da APDL, Nuno Araújo, conta que “em breve, vamos apresentar uma nova candidatura”, passando a ser possível transportar até 2.300 toneladas através do rio, o que somado ao transporte ferroviário actual atingirá uma capacidade para 3.700 toneladas diárias.

A Æthel Mining também prevê exportar o minério através de outros portos, nomeadamente Aveiro e Sines, tendo como destino o mercado europeu, mas com a intenção de chegar também ao Mediterrâneo e o Médio Oriente.

Para a APDL, este transporte de ferro é visto como uma grande oportunidade para o Porto de Leixões, encontrando-se o transporte ferroviário actualmente com uma quota de mercado de 10% na infra-estrutura. “Temos todo o interesse na valorização desta linha e em substituir o camião pela ferrovia, até por preocupações ambientais”, comenta o responsável da APDL.

De acordo com um estudo da IP – Infraestruturas de Portugal em 2016, a reabertura da Linha do Douro entre Barca d’Alva e Salamanca, em Portugal e Espanha, respectivamente, teria impacto em cidades como Salamanca, Madrid, Valladolid, León, Burgos ou Oviedo.

Para além disso, para chegar a Castela-Leão são necessários cerca de 328 quilómetros, mais 56% do que pela Linha do Douro, obrigando a passar pela Linha do Norte, cuja capacidade já se encontra praticamente esgotada, e pela Linha do Douro, através de Barca d’Alva, são necessários apenas 210 quilómetros.

O Dinheiro Vivo também acrescenta que um eventual regresso da Linha do Douro até Salamanca implicaria um investimento total de 578 milhões de euros, dos quais 163 milhões seriam feitos do lado português e 415 milhões do lado espanhol, obras que a Comissão Europeia se mostrou disponível para financiar em 2018.