Infelizmente quando anunciarem “qual será a palavra do ano® em Portugal?” em 2020, haverá uma disputa entre covid-19, corona ou pandemia. No entanto, para mim enquanto cidadão a palavra do ano 2020 já está escolhida, será a palavra ignorância.

Começo por afirmar que eu próprio cada vez mais me sinto ignorante e até descrente. Até há poucos dias acreditei que a grande maioria da informação que era veiculada por certas pessoas com credibilidade técnico-científica em várias fontes de informação era verdadeira. No entanto, com tanta informação e contrainformação sobre saúde, contágio, política, finanças ou economia sinto-me muito confuso.

Se há algo que teremos de aprender com estes últimos tempos é que afinal a nossa ciência e a nossa sociedade não estão assim tão avançadas como pensaríamos. É certo que a dialética de ideias e o seu consequente confronto é uma das chaves da evolução da sociedade e da ciência. No entanto, hoje quando vemos, ouvimos ou lemos os especialistas em saúde, política, economia ou finanças nacionais e internacionais todos falam com uma certeza inabalável. Haverá falta de humildade em invocar que apenas o que dizem, falam ou escrevem é apenas a sua opinião ou a sua visão da realidade?

Estes últimos dias desnudaram a nossa ignorância, e deixaram bem saliente o quão é importante cada um de nós ter um pensamento e uma visão crítica sobre o que nos rodeia e sobre o que nos é transmitido.

Temos sido treinados para aceitar sem interrogação a informação que nos transmitem e sem querer estamos todos verdadeiramente contaminados com o vírus da ignorância.

Que a interrogação e o pensamento crítico façam parte integrante do nosso desenvolvimento futuro enquanto sociedade. O pensamento de “rebanho” não nos alavancará para um futuro melhor.

Mantenham-se atentos porque há uma receita que começa a ter os seus efeitos e que alguns seres humanos sabem utilizar na perfeição, os grandes manipuladores sabem se juntarem medo e ignorância conseguem atingir os seus objetivos. Que a cultura e a educação passem a ter um papel fundamental na formação dos nossos concidadãos, pois uma sociedade culta e crítica é uma sociedade forte e que evita verdadeiros futuros problemas.

Alexandre Real, partner | SFORI

Artigo originalmente publicado no "Jornal de Negócios"