As mudanças nos hábitos de compra, o comportamento do consumidor na visita à loja e seu efeito no mix de venda, o investimento em equipamento de proteção e de higienização dos espaços e seu impacto na estrutura de custos e linha final do resultado, fazem parte duma nova realidade das cadeias das lojas físicas. A Logística na vanguarda do know-how em soluções e processos poderá dar um importante contributo para reduzir a nova “pressão” sobre os custos e eficiência.

Algumas linhas de pensamento certamente têm argumentos que esta crise pandémica será um momento de “disrupção” na distribuição e que poderá culminar no fim das lojas físicas tal como as conhecemos.

A minha visão não é essa. Os super, hiper e o discount, fazem parte do mundo de hoje que seguramente irão verificar-se importantes evoluções e transformações, mas a loja física com todos estes novos desafios certamente prevalecerá. O Retalho Alimentar poderá sair mais forte desta crise, se aproveitar este momento para o desenvolvimento estratégico e planeamento a longo prazo.

Mais do que nunca é vital entender como o consumidor vive este momento, o que necessita e que comportamentos diferentes está ele próprio a adotar no seu ato de compra, relativamente como o fazia até há 3 meses. Como entender um novo mix de composição da venda, que terá forte impacto no layout de loja, nas ações de negociação e compra com os fornecedores, na operação do armazém e que irá culminar numa substancial alteração do mix de margem.

As primeiras análises do setor Alimentar, mostram já estas transformações:

• Os consumidores estarão agora mais conscientes e preocupados em manter e intensificar a higiene do seu ambiente doméstico, o que terá repercussão nas categorias de DPH como detergentes, produtos de limpeza e desinfetantes;
• Após esta vivência de estarmos “fechados em casa”, será importante a necessidade de cuidados próprios o que levará ao crescimento das secções de beleza e cuidados pessoais;
• Mesmo com a saída do confinamento, alguns hábitos de teletrabalho irão com certeza prevalecer, o que por si só, levará a diferentes necessidades de compra na área alimentar: o consumidor ao estar mais tempo em casa irá procurar artigos que substitua as refeições que habitualmente fazia fora;
• Efeito no formato da Conveniência, que fez ao longo dos últimos anos a redução do sortido básico em determinadas secções, nomeadamente alimentação e aposta na oferta de referências de “food-to-go”.

Mas a mudança de hábitos do consumidor não será apenas no mix de compra, terá efeitos também no seu comportamento no interior da loja o que terá impacto na compra por impulso e na circulação na placa de vendas. Os primeiros estudos apontam uma redução da frequência de compra, um aumento da cesta média por cada visita à loja e compras menos impulsivas. O cliente é mais objetivo dentro da loja, faz a circulação no seguimento da lista de compras com menos paragens em frente ao linear e diminui as compras por impulso. O ato de ir às compras foi percecionado como um aumento de risco, principalmente na fase de maior contágio e o investimento e implementação de medidas de proteção terá sido essencial para ganhar a confiança do consumidor.

Ao mesmo tempo que ocorrem estas transformações, o momento é uma oportunidade de planeamento estratégico a médio/longo prazo. Enquanto que o aumento de vendas verificado desde os primeiros dias desta crise trouxe importantes rácios de crescimentos L4L, no entanto a rentabilidade não terá o mesmo desempenho, pois esta nova realidade coloca importantes “pressões” na Estrutura de Custos da Operação e no desempenho financeiro.

• Os equipamentos de proteção (EPI) para os colaboradores e os novos cuidados de limpeza dos espaços;
• O investimento em novos dispositivos de proteção de equipamentos de loja (assistimos já a várias soluções em diferentes fases de teste ou implementação na Europa, para desinfeção de carrinhos de compra, proteção de manípulos de gôndolas e outros);
• As alterações do mix de compra e do comportamento do consumidor e impacto no desempenho da margem;
• O crescimento do Ecommerce que implicará a implementação duma cadeia de abastecimento “quase” paralela à das lojas físicas, o que levará a desempenhos de custos superiores pelo menos numa fase inicial.

Certamente vários posicionamentos estratégicos irão dar resposta a esta nova realidade e deixo também o contributo de algumas ideias para esta abordagem, em particular na área da Cadeia de Abastecimento.

A Logística na área do Retalho Alimentar, domina hoje um conjunto de soluções que implementadas de forma sustentada e que poderão dar um forte contributo de criação de valor nesta fase, das quais realço apenas algumas que podem ser implementadas ao longo da cadeia:

• Processos de melhoria nos fluxos de transporte primário, tais como sistemas de backhauling;
• Projetos de Colaboração com os Fornecedores com incidência na atividade de reaprovisionamento e interface logística;
• Sistemas de leitura de códigos de barra e codificação para melhoria dos fluxos de receção, movimentação de mercadorias e expedição;
• Diferentes formatos de preparação nas áreas de fluxo tenso e stock e gestão do layout dos centros de abastecimento, para melhorias de produtividade;
• Eficiência no transporte às lojas, planeamento de rotas e gestão de entrega.

Cada um destes sistemas e outros, foram massificados pois representaram além de aumento de eficiência, uma redução do custo operacional. Neste sentido, a Logística da empresa deverá estudar e desenvolver PROJETOS DE REDUÇÃO DE CUSTOS, que numa ótica de “reengenharia” de processos, fluxos de mercadoria e equipamentos, permitam obter poupanças operacionais assumindo a manutenção dos níveis de serviço – uma forma diferente de operar a atividade de cada área com menor custo.

Para esta abordagem será de vital importância em primeiro lugar conhecerem-se os custos diretos e indiretos de cada área da operação logística e que permitam servir como métrica de cada atividade, para seguir a melhoria de desempenho, assim como o alinhamento da gestão de topo e divulgação interna dos resultados obtidos.
Principalmente nesta fase, a Logística deverá ter uma visão mais abrangente e panorâmica da Empresa e dos desafios que se colocam a toda a organização no seguimento desta crise.

Manuel José Gomes | Consultoria Logística e Distribuição