As medidas de confinamento implementadas por todo o mundo para combater a propagação do novo coronavírus, e a consequente retoma da actividade de forma desfasada entre países poderão custar 2,2 mil milhões de euros ao comércio internacional de mercadorias, o equivalente a uma subida de 11 pontos percentuais nas tarifas à importação por parte de todos os países, para os 17%, estima a Euler Hermes, accionista da COSEC – Companhia de Seguro de Créditos.

De acordo com o estudo “COVID-19 losses equivalent to a return of 1994 tariffs”, recentemente lançado pelo grupo de seguro de créditos, mesmo após o fim do confinamento, o facto de haver regras diferentes entre Estados sobre a circulação de bens, serviços e pessoas pode gerar incerteza, assimetria de informação e uma sobrecarga regulatória sobre as empresas, impedindo o comércio global de voltar ao normal.

Depois de um choque de 22,5% em termos de valor, o comércio poderá, mesmo após o fim do confinamento, permanecer abaixo de 90% do que se registava antes da crise. Não obstante, o estudo indica que a recuperação acontecerá ainda no segundo semestre deste ano, na sequência da retoma da actividade no sector industrial, e durante 2021, crescendo +10% em volume e +15% em valor.

Aumento do proteccionismo

Apesar do cenário considerado mais provável ser o cenário de recuperação em forma de “U”, os analistas alertam para o facto de alguns sectores, nomeadamente os que exportam produtos de alto valor acrescentado e são mais sensíveis a interrupções na cadeia de fornecimento, correrem o risco de sofrer aumento de preços. É o caso da informática, electrónica, dos metais e da indústria mineira, dos transportes, do equipamento eléctrico e dos têxteis. Em termos de países, correm maior risco as empresas que operam na China, nos Estados Unidos da América, na Alemanha, em França, na Irlanda, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

Os economistas da Euler Hermes alertam ainda para o regresso de um risco que o comércio internacional enfrentava antes do surgimento da pandemia: o aumento do proteccionismo. A adopção destas políticas por parte dos Estados pode recriar a incerteza vivida em 2019 e prejudicar a recuperação do investimento, intensificando-se à medida que se agravam tensões entre os EUA e a China.

O proteccionismo tem sido evidente, por exemplo, nos produtos relacionados com a Covid-19. Os dados revelam um nível recorde de novas restrições à exportação de produtos médicos, farmacêuticos e de equipamento de protecção por parte de muitos países. No total, foram aplicadas mais de 80 novas medidas proteccionistas a estes produtos em 2020 em todo o mundo – um recorde, e que equivale a 2,5 vezes o total de medidas implementadas em todo o ano de 2019. O estudo calcula que, só em 2020, os bloqueios às exportações possam reduzir o comércio de produtos Covid-19 em 27 mil milhões de euros.

Os economistas alertam ainda para o impacto que estas políticas proteccionistas podem ter no agravamento da crise sanitária nos países em desenvolvimento. O Brasil, a Argentina e a Argélia, seguidos da África do Sul, Marrocos, Indonésia, Colômbia, Malásia, México e Chile, são países cujas importações de produtos relacionados com a crise sanitária estão fortemente concentradas em três principais parceiros e onde as tarifas sobre esses produtos são mais elevadas em relação ao resto do mundo.