A nível internacional, nem todos os países aceitam a certificação do Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário (Citeve) para exportar produtos têxteis de combate à pandemia Covid-19, vários países da União Europeia definiram os seus próprios parâmetros e especificações técnicas, como é o caso da Espanha, França, Bélgica e Alemanha. A federação europeia da indústria têxtil, Euratex, está a promover a harmonização dos requisitos para a certificação destes produtos, nomeadamente no que toca às máscaras de uso comunitário.

Embora não se saiba ao certo quantas máscaras estão a ser produzidas a nível nacional, mas estima-se que seja cerca de um milhão por dia, de mais de 250 modelos certificados para uso comunitário e de profissionais que não da área da saúde. Após o abastecimento nacional, as empresas partem para a exportação, mas esta barreira é um problema para elas, pois exige uma dupla certificação.

“Está toda a gente a trabalhar para fora. As empresas são contactadas, antes de mais, pelos seus clientes habituais e estes são essencialmente europeus. Sabemos que muitos aceitam a certificação Citeve mas, em alguns casos, estão a ter que fazer a certificação nos diversos países”, explica o director-geral do Citeve, Braz Costa. O responsável do centro tecnológico está também a articular-se com os de outros países de modo a tentar ultrapassar esta questão, como é o caso da França, que “usa os mesmos métodos e os mesmos limites”. A ideia é de que com a certificação do Citeve, e o relatório de ensaio realizado no centro tecnológico, as autoridades de outros países, neste caso da França, também emitam a respectiva certificação para este país sem a necessidade de um segundo ensaio adicional.

Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), também considera que as empresas portuguesas estão a sair prejudicadas, quanto mais não seja em termos de custos. “As empresas têm recebido pedidos de vários mercados, designadamente da Suíça, França e Espanha, e se há clientes que aceitam a certificação portuguesa, outros não, o que obriga a repetir todo o processo lá fora. Mas isso é o mercado a funcionar”, explica.

O responsável da ATP explica ainda que a certificação de uma máscara no Citeve custa cerca de 55 euros, mas que lá fora pode chegar a custar 250 euros. “Não é um custo abismal, depende de país para país, mas claro que inibe as empresas. Sei de quem tenha encomendas da Suíça e que esteja à espera de aprovação para poder prosseguir”, defende Mário Jorge Machado.

Um dos maiores grupos têxteis nacionais, a Polopique, optou por certificar primeiro as máscaras em laboratórios internacionais, e só depois no Citeve, quando percebeu que necessitaria dessa autorização para vender no mercado nacional. No mercado externo, a Polopique já vendeu 24 milhões de máscaras para a Alemanha e Bélgica, e três milhões em Portugal.

A Estamparia Adalberto foi uma das primeiras a obter a certificação do Citeve para a produção de máscaras, e também já procedeu à certificação internacional. Para já ainda se encontra muito focada no mercado nacional, através de uma parceria com o Grupo Sonae. “Estamos a fazer muito pouco para fora, quase só vendas pontuais e como acessório de moda para alguns clientes habituais, a nossa prioridade é Portugal”, comenta Susana Serrano, CEO da empresa, acrescentando que têm como objectivo atingir a produção diária de 50 mil máscaras, e em Junho as 500 mil por dia.

O Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) também está a certificar estes produtos, e apesar de ser certificada para a indústria automóvel, é também a maior infra-estrutura tecnológica nacional, e conta com 16 laboratórios acreditados e “muito habituados a responder às normas internacionais” de indústrias como a automóvel, aeronáutica e aeroespacial, como conta Pedro Matias, presidente do Grupo ISQ.

“A indústria portuguesa, fruto da sua característica empreendedora, fez esse shift muito rápido para a produção de máscaras e equipamentos de protecção, que têm hoje uma imensa procura, e o ISQ está a ajudar as empresas nesta adaptação, ajudando também a economia nacional”, revela o responsável do grupo, acrescentando que o ISQ se encontra a ser procurado por muitas empresas multinacionais e entidades internacionais de referência para fazer análises de conformidade às máscaras que se encontram a produzir.

Também a portuguesa Calvelex, empresa da Lousada do sector têxtil, se encontra a produzir máscaras reutilizáveis, certificadas em laboratórios internacionais com os quais habitualmente trabalha, e tem estado a vender para mercados europeus. Ao mesmo tempo, também se encontra a fabricar batas e vestuários cirúrgicos para hospitais em Inglaterra, Alemanha, França e Holanda, que por serem materiais da área da saúde, obedecem a normas europeias, e essa certificação nos laboratórios internacionais é aceite por qualquer país. César Araújo, CEO da Calvelex, comenta que “já exportei muitas máscaras, mas agora a grande procura é de equipamentos hospitalares e é isso que estamos a fazer. Mas foi por necessidade, não me vejo a fazer disto negócio, quero mesmo é voltar a fazer roupa de luxo”.