Na passada quinta-feira, dia 5 de Março, a GS1 Portugal realizou a primeira edição do seu seminário sob o tema “Gestão 4.0 com Inovação e Sustentabilidade” no Campus do Lumiar. O objectivo foi discutir o impacto da gestão 4.0 na era da transformação digital e o seu reflexo na cadeia de abastecimento das empresas e na economia nacional, contando para tal com contributos de profissionais especialistas em data science, logística e transportes, planeamento urbano e conectividade, recursos humanos, retalho e distribuição.

Entre os temas debatidos estiveram o acesso aos dados de qualidade no processo de tomada de decisão dos gestores, a logística e os transportes como factor de diferenciação estratégica, o papel do planeamento urbano e da conectividade nos negócios, as competências digitais e de inovação dos novos líderes e o novo paradigma da supply chain.

Para a abertura do Seminário GS1 Portugal de Supply Chain, João de Castro Guimarães, director executivo da GS1 Portugal, começou por contextualizar o evento e apresentar, em maior detalhe, a empresa e as diferentes formas de actuação na cadeia.

Seguidamente, José Gomes Mendes, Secretário de Estado do Planeamento, abordou a evolução da supply chain que está a acontecer, e entre as megatendências, clubes de fornecedores, digitalização, pegada ambiental, conflitos políticos, Brexit ou a recente pandemia do Coronavírus, afirmou que “aquilo a que estamos agora a assistir é um verdadeiro teste de stress à nossa supply chain”.

Paulo Barata, Global Product Data Manager da GS1, seguiu-se no programa, e apresentou o “bilhete de identidade” dos produtos, como forma de identificação e verificação dos mesmos, de modo a evitar a inconsistência dos dados ao longo da cadeia, destacando os problemas que por vezes existem em casos de caracteres especiais, como acentos ou hífens. Segundo o responsável, através desta identificação é possível manter essa consistência da informação. Segundo revela, este sistema já se encontra disponível em 8 países, e avança que também já se encontram a fazer testes em produtos portugueses.

Após a explicação, o palco foi tomado por um momento de painel-debate, com o tema “O Novo Paradigma da Supply Chain 4.0”, com representantes de empresas de retalho e distribuição, para discutir as tendências do sector, os novos modelos de negócio no retalho e o impacto das tecnologias para os modelos de consumo e para a logística das empresas. Presentes neste momento estiveram Ana Leandro (Auchan), Jörg Deubel (Nestlé Portugal), Luís Cabrita (Sociedade Central de Cervejas), Pedro Nunes (Sonae MC) e José Fradeira (Vitacress), sob a moderação de Víctor Jorge (Distribuição Hoje).

O painel começou por um momento bastante importante para a actualidade, com a importância dos planos de contingência. Luís Cabrita começou por explicar que estes devem ser uma prioridade para as empresas como forma de antecipar possíveis problemas posteriores, mas que no recente caso do Coronavírus se tratou de um plano de forma reactiva devido à imprevisibilidade do surto. Ana Leandro concordou com o responsável, e explicou que a Auchan se encontra a actualizar os seus planos de contingência “conforme as notícias vão saindo”.

Jörg Deubel, por sua vez, apresenta uma visão muito futurista, e explicou algumas formas de prevenção e de actuação para evitar o contágio. Considera importante para as empresas avaliarem se existe “panic buying” ou não antes de agirem.

Entretanto, a Sonae antecipou-se ao vírus e avançou com as medidas de contingência, pelo que Pedro Nunes não se apresentou fisicamente. Através de uma video-chamada, o responsável da Sonae MC explicou que a retalhista já tinha activado o seu plano de contingência, e que várias equipas já se encontram a trabalhar a partir de casa, como teste. “Estamos a gerir uma esteria geral”, explica o responsável, diferenciando o efeito real do efeito mediático do surto.

Em termos de digitalização e sustentabilidade, os intervenientes defendem que existem diferentes tipos de maturidades, e o digital leva também a uma standardização dos dados. É ainda importante tomar medidas ambientais, como investir mais na reciclagem e reutilização de materiais, bem como combater as emissões, podendo a aposta em diferentes formas de transporte e combinação dos mesmos ajudar nessa vertente.

José Fradeira fala ainda dos desafios associados à cadeia de abastecimento, que no caso da Vitacress são muitos, devido à curta validade dos seus produtos, o que faz com que não operem com stocks e trabalhem 100 produtos diariamente, por vezes sem terem ainda encomendas. Consideram que a chave está no planeamento e calendarização para tentar prever as cargas, e é importante que haja partilha de informação por parte do cliente de modo a tentar antecipar o número de encomendas.

Miguel Castro Neto foi o último orador da manhã, tendo falado sobre a conectividade e as smart cities aos níveis do urbanismo, mobilidade e logística, tocando nos desafios da mobilidade e da nova organização das cidades na logística urbana, no planeamento e na concepção de transportes.

A sua apresentação foi, acima de tudo, futurista, apresentando diversos casos reais onde foram aplicadas tecnologias como a Inteligência Artificial que se encontram a funcionar ou em testes noutros países, e que poderiam ser replicados para o nosso país.

Durante a tarde a moderação coube a Tiago Freire, director da Revista Exame, começando pela apresentação de Fernando Matos, presidente da Data Science Portuguese Association, que abordou o tema do data analytics. “Fazer as perguntas certas com base em Dados” foi o título da sua apresentação, que trouxe a debate a importância da qualidade dos dados, bem como as competências e os recursos tecnológicos necessários para que sejam tomadas as melhores decisões com base nestes.

Rui Rufino, representante da APLOG, abordou o tema “Supply Chain como Factor de Diferenciação Estratégica”, abordando a forma como a competência logística das empresas consubstancia um factor crítico de eficiência num contexto de omnicanalidade.

As conferências terminaram com a apresentação do professor auxiliar convidado João Silveira Lobo, da SBE Executive Education, onde numa visão muito futurista abordou o “Papel da Inovação nas Competências Digitais dos Novos Líderes”. Tecnologias como a Inteligência Artificial, Internet of Things ou Big Data passam a ser tendências importantes para os negócios, que assumem um papel de mudança e é necessário serem actualizados a cada minuto, porque “o futuro não para”, conclui o docente.