O recente Acordo relativo às operações de carga e descarga vem no seguimento dos desenvolvimentos recentes no setor do Transporte Rodoviário de Mercadorias, gestão da atividade de Motoristas e terá particular importância nas redes logísticas do Retalho.

O Acordo-Quadro (despacho nº 7580-A/2019) criado pelo Grupo de Trabalho que englobou representantes do Governo, dos Sindicatos de Motoristas e diferentes Associações da área de Transportes, tem o objetivo de regular as operações de cargas e descargas como atividade ligada aos transportes rodoviários de mercadorias, incidindo em particular destaque no setor da Distribuição e nas suas redes logísticas com elevado nível de centralização.

Entre os vários aspetos considerados no Documento, importa salientar alguns pontos no que respeita à proposta de Regulação dos “Tempos de Espera”:
• Definição de Tempos de Espera (TE) nos centros de distribuição antes e depois das operações de carga e descarga (TE inicial e final) e consideração de um Tempo Máximo de Espera de 2h a partir da hora agendada;
• Apresentação de tabela de custo horário que o Expedidor/Destinatário suportará ao Transportador como uma indemnização quando o TE de 2h for ultrapassado;
• Pontos que não se aplicam às entregas a lojas do Cliente;
• Salvaguarda de pontos acordados contratualmente entre as Partes.

O Documento apresenta ainda a proposta de Regulação da responsabilidade da execução das operações de carga e descarga, de princípios relativos às condições dos motoristas para aguardarem durante o tempo de espera, de fiscalização e controlo, e define um Período de Implementação até junho de 2020.

Este momento, deverá ser uma oportunidade de reflexão de algumas das operações logísticas que destaco alguns pontos que me parecem importantes da atividade de Receção de Mercadorias, deixando a operação de carga e Expedição para outro momento.

1) Em primeiro lugar uma análise relativa à interligação entre a operação do Centro de Distribuição e a atividade de Compras (reposição de stocks):
– Interligação entre a área de Compras e a gestão da Receção do Centro, para o agendamento horário das entregas, de modo a enquadrar a equipe de trabalho disponível com os fluxos de entrada;
– Informação em tempo real da capacidade disponível do armazém, para que se evitem as situações de excessos de stock;
– Planificação das compras para as épocas sazonais e compras de oportunidade como resultado das negociações com fornecedores.

2) Definição do processo de conferência de mercadorias, que regra geral incide numa contagem total das quantidades recebidas, leitura de códigos de barras e verificação do correto estado da mercadoria. A organização deverá ter um forte envolvimento com os fornecedores para se adotarem as ferramentas de leitura de códigos de barras, eficiente colocação das etiquetas nas paletes e correta gestão da informação; Portugal está hoje na vanguarda do conhecimento dos processos de codificação eletrónica através dos standards GS1 que regulam os códigos GTIN14, EAN128 e SSCC.

3) O processo de entrada não termina na placa de receção. É vital que a operação do Centro de Distribuição disponha dum eficiente fluxo de entradas de mercadorias (put-away) desde a zona de deposição das paletes recebidas até à sua alocação final.
– Análise do processo de recolha das paletes mais adequado, seja por ação de double-stackers ou recolha direta por empilhadores;
– O papel do WMS neste processo, no que respeita à eficiente indicação da posição final de colocação da palete, à gestão deste dado na etiquetagem eletrónica da palete e informação correta relativa à estrutura de armazenagem do Centro;
– Gestão das posições de destino das paletes recebidas, seja para zonas de buffer, áreas de preparação de PBL (fluxo tenso) ou stock nos sistemas de racks de estantes.

Estas e outras, serão certamente áreas a serem analisadas no chamado warehousing dos Centros de Distribuição cuja eficiência será sentida pelos intervenientes na Supply Chain, desde Fornecedores até aos Transportadores.

Manuel José Gomes
Consultoria Logística e distribuição