Embora seja comum dizer-se que apenas uma pequena percentagem dos oceanos foi explorada, os recursos não são infinitos, e é igualmente necessário conseguir arranjar maneiras sustentáveis de aprovisionamento que não prejudiquem o ambiente.

O peixe representa hoje cerca de 20% da ingestão mundial de proteínas animais, e neste momento falamos de 7,7 mil milhões de pessoas em todo o mundo

António Serrano, CEO da divisão Agro-Alimentar da Jerónimo Martins, considera que a aquacultura é a melhor forma para responder às necessidades mundiais do sector piscícola de forma sustentável, sendo assim uma alternativa ao abastecimento tradicional.

A aposta da Jerónimo Martins nesta área começou em 2016, mas o responsável ainda considera que o projecto se encontra no início. Por agora, procuram crescer nas áreas dos robalos e douradas, e desenvolver outras, como é o caso do salmão, sobre o qual têm em andamento um projecto de R&D, podendo inclusive ficar com a produção em Portugal.

O responsável do grupo explica que algumas espécies estão sobre-exploradas, e atingiram mesmo níveis críticos. “Somente com a mudança de uma indústria extractiva (pesca) para uma indústria produtiva, como a aquacultura, conseguiremos alcançar um equilíbrio entre a gestão de stocks selvagens e a pressão do consumo”, defende o responsável.

Devido ao crescimento da população mundial, houve a necessidade de proteger a sua cadeia de aprovisionamento. Estima-se que até 2050 sejamos 9 mil milhões de pessoas no planeta, e como tal irá ser necessário aumentar a produção em cerca de 60%, comparativamente aos valores actuais. António Serrano destaca ainda a preocupação da segurança alimentar e a necessidade de fazer um controlo mais rigoroso na cadeia de produção.

António Serrano explica que optaram por criar as espécies em “quintas aquáticas”, ao invés de produção em tanques: “o peixe é produzido no seu habitat natural, em grandes jaulas onde podem nadar livremente”.

Confrontado com as diferenças entre a qualidade dos peixes de aquacultura e dos capturados no seu habitat natural, o responsável considera que este método em que se encontram a investir pode inclusive ter melhor qualidade por ter a vantagem da frescura imediata, explicando que “os peixes de aquacultura podem atingir níveis de qualidade mais altos, dependendo do grau de frescura, pois sua captura é programada de acordo com as necessidades do mercado e, portanto, pode chegar ao mercado mais rapidamente”

Realça ainda a vantagem existente no controlo dos alimentos que os peixes ingerem, sendo capazes de evitar a presença de contaminantes, como metais pesados ou micro-plásticos, e no caso dos peixes selvagens os seus alimentos permanecem um mistério.

Sobre o sabor, considera que depende de cada pessoa, mas que foi feita uma prova cega e as pessoas não conseguiam identificar se os peixes eram selvagens ou de aquacultura. Revela que em Portugal, 90% das douradas e robalos são provenientes de aquacultura, e o salmão atinge valores ainda maiores, 99%.

Também em Espanha, na região de Alicante, o grupo investiu nestas duas áreas piscícolas, e desde Setembro também os primeiros robalos e até pargos. Estimam que até ao final do ano sejam 400 toneladas de peixe.