Desde há alguns anos a esta parte foi introduzido o conceito que vivemos num mundo VUCA (volatile, uncertain, complex and ambiguous) ou traduzindo, num mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. É certo, também, que por exemplo na indústria de supply chain, a robotização, digitalização e inteligência artificial trazem desafios de adaptação cada vez maiores para as empresas, mas também o terrorismo, crises financeiras e alterações climáticas tornam o mundo em geral cada vez mais VUCA de uma forma sem precedentes. E enquanto a volatilidade e a incerteza podem ser medidas e quantificadas, a complexidade e ambiguidade obrigam-nos a desenvolver outras ferramentas internas para lidar com elas.

Isto representa um desafio enorme para todos os players, onde é previsível perderem-se no limbo entre tudo o que acontece ao seu redor e o caminho que querem seguir, principalmente os novos empreendedores que não podem nem devem dar resposta a tudo o que gravita ao redor do seu negócio sob pena de percorrerem vários caminhos sem chegarem sequer a meio de nenhum. E o que é que podemos/devemos aprender dos vários percursos que fazemos?

Voltando ao VUCA, se nos reportarmos aos 2 primeiros conceitos, esta volatilidade e incerteza vão trazer muito stress profissional e pessoal, que nos vai fazer duvidar do caminho ou mesmo desistir dele pois somos todos seres humanos racionais e há uma predisposição natural de defesa do nosso organismo, e já agora da nossa saúde mental, pelo que a nossa vida pessoal/familiar deve ser o nosso “porto seguro” destas agressões exteriores, mas como podemos preservar este refúgio se a tecnologia nos torna cada vez mais interligados, informados, conectados e dependentes de kpi’s, forecasts,  deadlines e relatórios que nos esmagam e nos tornam por oposição cada vez menos offline?

O coaching é muitas vezes uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento de um espaço seguro onde se criam em conjunto novas possibilidades para fazer face à volatilidade e incerteza, e muitos empreendedores e principalmente as empresas reconhecem a importância de oferecer estas ferramentas às suas equipas, o problema é quando se confunde o coaching com mentoria e se passe a exigir que por exemplo um manager, que é no fundo um especialista naquela indústria ou área de negócio e que se especializou ao longo de um percurso de mérito profissional, se torne sem qualquer investimento num especialista em pessoas e em desenvolvimento pessoal num mundo também complexo e ambíguo, quando o que tem para oferecer é a clara e objetiva (mas muito preciosa e necessária) voz da experiência.

Usando o futebol como exemplo abrangente, Cristiano Ronaldo não será por ter tido uma carreira brilhante como jogador automaticamente um treinador genial, e José Mourinho não atingirá novamente o topo da sua carreira usando os mesmos métodos de há 15 anos, a liderança num mundo VUCA é uma prova de superação constante que exige capacidade de adaptação e dinamismo e uma consciência de que a mudança é imperativa. É por isso também que o negócio de João Félix envolveu uma quantia exorbitante, porque de forma inata já nasceu, cresceu e aprendeu a viver desde sempre nesta lógica e fruto da competência de quem trabalhou com ele e desenvolveu o seu talento, já se encontra adaptado ao que o mundo VUCA exige da sua profissão no início da sua carreira profissional.

Por outro lado, a Psicologia e a investigação científica provam-nos que aparentemente o tempo passa mais depressa à medida que envelhecemos, por estar de mão dada com a dificuldade que temos em lidar com as mudanças em nosso redor, por isso é importante esta adaptação, principalmente na indústria de supply chain que se alimenta da previsibilidade,mas que tem de se adaptar a clientes que exigem constantemente prazos de entrega cada vez mais curtos e seguros, visibilidade e feedbacks em tempo real. Para tal precisa de desenvolver talento e dotá-lo de experiência ao mesmo tempo que promove o inverso junto dos seus ativos mais experientes, abraçando as mudanças em nosso redor, mas preservando o nosso porto seguro e os nossos limites, apostando no desenvolvimento pessoal e no potencial humano para que também as organizações se tornem líderes neste mundo VUCA.

Por isso tenhamos em mente que quanto mais volátil o mundo, mais depressa acontecem mudanças e em maior escala, quanto mais incerto, mais difícil é de prever, quanto mais complexo, mais difícil é de analisar e quanto mais ambíguo, mais difícil é de interpretar.

Gonçalo Henriques, Managing Partner | Effect Plus Consultoria