Uma das partes mais complicadas do processo de compra é ver para além da linha do horizonte, o que está para além do nosso fornecedor e que por vezes não é tão visível. Ainda pelo mundo existem diversos casos de más condições de trabalho e de exploração dos trabalhadores que quando chegam a público afectam bastante as empresas aos olhos dos seus clientes. Grandes empresas, e especialmente multinacionais, têm vindo a apostar na rastreabilidade e na visibilidade total da sua cadeia como forma de aposta na ética de trabalho.

Graças à tecnologia, hoje as linhas entre o lucro e a consciência social já não estão tão facilmente definidas, acompanham-se e são ambas necessárias para as empresas. A ética social e ambiental já está presente nas preocupações das empresas, mas em 2016, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ainda 40 milhões de trabalhadores por todo o mundo estavam em casos de escravidão moderna, dos quais 25 milhões em trabalho forçado, e ainda dentro destes, 16 milhões incluíam-se no sector privado. Isto não contando os 152 milhões de crianças em exploração infantil, sendo que quase metade entre os 5 e os 11 anos.

O procurement ético procura combater este tipo de abusos laborais, pelo que a aquisição deve ser feita entre pessoas e não entre produtos e serviços. Trata-se de um negócio de pessoas, pois afecta – para bem ou para mal – vidas e meios de subsistência de cidadãos do mundo, mas por vezes ao negociarmos internacionalmente, esta questão poderá escapar-nos facilmente ao lado.

“Aplicar standards éticos rigorosos para a sua supply chain não é apenas sobre conformidade ou preencher documentos necessários, mas sim implementar uma boa gestão e prevenir a exploração de seres humanos pelo mundo para obter lucro”, explica Cath Hill, directora de grupo no Chartered Institute of Procurement & Supply.

Por vezes há ainda uma tensão comercial e cultural entre as normas éticas e legais, e Martin Buttle, strategic lead for general marchandise no Ethical Trading Institute (ETI), considera que mesmo “uma empresa que cumpra as leis locais de um país pode continuar a estar a quebrar os standards mínimos impostos internacionalmente. O Guia de Princípios nas Empresas e nos Recursos Humanos das Nações Unidas explica que estas têm a responsabilidade de respeitar os direitos humanos, mesmo em países onde a lei nacional é fraca, ou mal aplicada”.

É possível manter o abastecimento de produtos, aumentar a qualidade e a produtividade e melhorar a reputação de uma empresa através dos seus clientes, pois estes podem influenciar positiva ou negativamente uma marca, seja a nível pessoal, seja também entre familiares e amigos.