Velocidade, inovação e digitalização são as três principais palavras-chave a impulsionar a mudança na indústria do vestuário. Contudo, nem todos estão preparados para abandonar os modelos tradicionais, segundo avança o Sourcing Journal.
Nos últimos anos, marcas e retalhistas têm enfrentado a mudança acelerada para as compras online, a procura por mais unidades de stock e por pequenas encomendas, margens reduzidas, custos acrescidos e a pressão da recolha de dados, aos quais a maioria não sabe que uso dar. A instabilidade das políticas comerciais e as taxas resultantes da guerra entre os EUA e a China apenas vieram colocar pressão em todo este cenário.
O segredo para impulsionar o crescimento neste contexto, de acordo com o presidente de soluções da cadeia de abastecimento da Li & Fung, Sean Coxall, centra-se, na rapidez. «Na Li & Fung, estamos obcecados com a velocidade», admitiu, durante o seu discurso na Sourcing Summit: Hong Kong. Apesar das melhorias introduzidas nos últimos anos, este responsável definiu como objetivo criar a cadeia de abastecimento do futuro. Contudo, apesar de ter enaltecido a importância da rapidez, Sean Coxall reconheceu que a redução do ciclo de desenvolvimento do produto ainda não aconteceu. «Eu estou na indústria há 30 anos e, em alguns casos, ainda estamos a fazer as coisas da mesma forma que fazíamos quando começámos», confessou.
De acordo com Coxall, o calendário médio das vendas por grosso é de cerca de 40 semanas. «Se olharmos para o modo como passamos o tempo, as primeiras 17 semanas são a desenvolver o produto, as 13 semanas seguintes a fazer o ajuste e a obter as aprovações. Na verdade, passamos apenas 10 semanas de todo esse tempo a realmente fazer as peças. É demasiado tempo e temos que o reduzir drasticamente», afirmou.
O potencial do 3D
Num esforço para reduzir esse período a uma linha cronológica que dê resposta à procura do consumidor actual, a Li & Fung apostou na tecnologia 3D para o design e para o fitting, ajudando os seus clientes a reduzir para metade o tempo de desenvolvimento do produto, e, em alguns casos, a ir mais longe do que isso.
Com as ferramentas certas, defendeu Sean Coxall, é possível fazer o design e o desenvolvimento em oito semanas (em vez de 17), o fitting e as aprovações em seis semanas (em vez de 13) e a produção e logística passa a realizar-se em sete semanas (em vez de 10), diminuindo o ciclo de desenvolvimento do produto para 21 semanas, por oposição às actuais 40, e reduzir os custos em 48%.
Para o fazer, é necessário optar pela tecnologia 3D, que cria as amostras iniciais em alguns minutos, simula o movimento e o ajuste para a realização de alterações, cria etiquetas e simula passerelles virtuais e lojas para a visualização do produto do ponto de vista do consumidor, mesmo online. É precisamente no digital que as empresas podem absorver ideias e permitir aos clientes que dêem a sua opinião acerca de um produto antes deste ser produzido. A ferramenta funciona igualmente para acessórios. «Estamos a desenhar linhas completas de meias, cintos e chapéus sem vermos uma única amostra», referiu Sean Coxall.
Trata-se de uma mudança drástica em relação ao vestuário que era criado há 30 anos, no entanto, apontou Sean Coxall, muitas empresas «ainda estão presas ao passado. Tendemos a entrar num ciclo e depois andamos às voltas no mesmo. Para vocês que vão a sessões de fitting e ouvem os comentários, a maioria do que estão a ouvir são pessoas a mudar de ideias e a perder demasiado tempo. Agora, com as novas tecnologias, passamos por este processo mais rapidamente, poupando dias e, em alguns dos casos, mesmo meses».
Contudo, a mudança tem sido lenta, ressalvou o presidente de soluções da cadeia de aprovisionamento da Li & Fung. «Quando começámos esta jornada, pensámos que ia acontecer muito rapidamente, no entanto, percebemos que muitos dos nossos clientes não estão preparados. O maior entrave são as mentalidades», apontou Sean Coxall.