Em 2018 abriram, em Portugal, mais de 160 supermercados, um fenómeno que não passa ao lado da entrada da Mercadona em solo nacional. Tudo indica que, este ano, as expansões de infra-estruturas ligadas ao retalho alimentar, não irão ficar por aqui, uma vez que se aguarda pelas primeiras 10 lojas do gigante espanhol. No entanto, este não é o objectivo final da Mercadona. 200 supermercados abertos em Portugal é uma promessa que tem estado a mexer com os operadores, como Sonae, Jerónimo Martins ou Lidl, diz Pedro Pimentel, Director-Geral da Centromarca, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
A Mercadona entra em Portugal com uma grande força que deriva da sua incontestada liderança do mercado da distribuição espanhol, tenho obtido grande sucesso graças ao seu modelo de negócio “é um modelo assente na força das suas marcas próprias e de um relacionamento muito próximo com os principais fornecedores dessas mesmas marcas, e que passa também por uma logística muito eficaz, por uma escolha de sortido cuidadosa e criteriosa, por uma tipologia de lojas atraentes e bem desenhadas (…)”, explica Pedro Pimentel.
Tem-se gerado algum nervosismo junto dos grandes nomes que operam em Portugal, devido à dimensão e poder económico do gigante espanhol, bem como a relevância das suas marcas próprias e estratégia de preços mais baixos em detrimento da “febre promocional” adoptada pelos concorrentes portugueses, segundo o Director-Geral.
A logística dos diversos retalhistas que operam em Portugal será fortemente pressionada pela eficiência operacional espanhola, tal como as marcas próprias. No entanto, não é possível antever se as insígnias próprias da Mercadona terão sucesso e um reconhecimento idêntico no nosso país, não deixando de ser um motivo de preocupação para os que consigo competem, gerando uma maior aposta e investimento nas marcas próprias portuguesas. Pedro Pimentel refere que uma parte da competição entre distribuidores será realizada via qualidade, notoriedade, reputação e preço das próprias marcas.
Num momento em que nunca se falou tanto em comércio online, como é que as lojas físicas continuam a reproduzir-se em grande escala? O Director-Geral da Centromarca esclarece que “os consumidores adoptam, cada vez mais, uma atitude verdadeiramente omnicanal, não utilizando um chip para pensar físico e outro para pensar digital”. Acrescenta referindo que os clientes não compreendem as especificidades de cada campo, ou seja, não aceitam que aquilo que é possível num espaço comercial convencional, não o seja também aquando da compra via online. Esperam, ainda, “coerência e homogeneidade nas políticas de sortido e de preço num e noutro canal”.
É por isso que o comércio electrónico está tão presente na estratégia dos operadores do retalho, mesmo que isso signifique uma redução nas vendas totais do mercado nacional dos fast moving consumer goods (FMCG). Isto acontece porque todos antecipam a explosão deste mercado, quer por mudanças do lado da procura, com um consumidor que opta consoante a sua conveniência, quer do lado da oferta, com melhorias de processos a nível digital e logístico.
A verdade é que tanto o comércio electrónico como as lojas físicas, necessitam um do outro para terem sucesso, como conta Pedro Pimentel. Os grandes operadores digitais reconhecem que não terão condições para vingar no mercado de grande consumo alimentar, sem a presença física. Por sua vez, os profissionais do retalho alimentar também percebem que não podem ficar para trás na corrida ao mercado digital.
O aumento das lojas físicas deve ser encarado com a perspectiva de aproximar conceitos e produtos dos consumidores, de forma a incentivar a compra através de uma oferta adequada e conveniente, nomeadamente dos produtos frescos, que terão menos adesão do ponto de vista do e-commerce, ou como base de apoio logístico para o fenómeno do click and collect.