A degradação do preço dos medicamentos coloca em risco o serviço de interesse público prestado pelos distribuidores farmacêuticos de serviço completo. Esta é uma das principais conclusões do estudo “Caracterização e impacto da Distribuição Farmacêutica em Portugal”, desenvolvido pela Deloitte, divulgado hoje pela Associação de Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA), no seu congresso.

Mostrar a importância do serviço de interesse público prestado pelos distribuidores farmacêuticos de serviço completo, elencar as ameaças à sustentabilidade económico-financeira do sector e analisar as oportunidades de melhoria do circuito do medicamento foram os principais objectivos deste estudo, apresentado hoje no Congresso Nacional da Distribuição Farmacêutica.

O estudo demonstra que os distribuidores de serviço completo desempenham um papel fundamental para a sociedade. Em média, percorrem diariamente o equivalente a 5 voltas ao mundo, realizando mais de 11 mil entregas (cerca de 800 mil embalagens), para garantir uma gama completa de medicamentos e produtos de saúde às farmácias comunitárias.

A distribuição farmacêutica assegura, em média, 3 vezes ao dia, um fornecimento atempado às farmácias em qualquer localização geográfica, sem excepção ou diferenciação, com elevados índices de satisfação. O tempo médio de entrega após uma encomenda é de 2,8 horas e, no máximo, uma farmácia aguarda 5,7 horas, factor essencial para a coesão territorial e para o acesso das populações isoladas às terapêuticas.

Ao analisar a situação económico-financeira do sector, o estudo revela que a distribuição farmacêutica é o elo da cadeia de valor com a rentabilidade mais baixa, apresentando um EBITDA médio anual de apenas 1,2%.

Os resultados líquidos do sector demonstram as dificuldades e pressão económico-financeira das empresas. Entre 2010 e 2017, a rentabilidade líquida média foi de 0,4%, havendo anos em que, inclusivamente, o sector registou prejuízo.

“A ADIFA tem vindo a manifestar a sua preocupação com a sustentabilidade da cadeia de valor do medicamento, que, nos últimos anos, tem sido sujeita a enormes constrangimentos. Em concreto, o mercado de ambulatório de medicamentos sofreu, desde 2008, uma redução superior a 640 milhões de euros (-22,8%), devido à degradação dos preços dos medicamentos, situação agravada por uma queda das margens de comercialização da distribuição farmacêutica de aproximadamente 23%. Estas circunstâncias resultam numa enorme pressão sobre o sector, que quer continuar a prestar um serviço de qualidade às farmácias e, consequentemente, à população portuguesa, mas precisa de meios para tal.” alerta Diogo Gouveia, presidente da ADIFA.

Por último, quando se avalia o valor acrescentado que a distribuição farmacêutica traz ao sistema de saúde nacional, conclui-se que, para além do serviço público que presta, o sector tem participado em vários programas de saúde pública, nomeadamente o Programa Troca de Seringas, a Via Verde do Medicamento, o Projecto-piloto de Dispensa de Medicamentos Antirretrovirais nas Farmácias, o Projeto-Piloto de Vacinação contra a Gripe nas Farmácias de Loures, entre outros.

O presidente da ADIFA adianta que os distribuidores farmacêuticos de serviço completo “defendem que se deverá avançar com a transição de alguns medicamentos de uso exclusivo hospitalar para o meio ambulatório, em linha do que já é praticado na Europa, assim como a expansão dos programas de saúde pública, o outsourcing da logística hospitalar e a optimização do mecanismo Via Verde do Medicamento”.

Perspectivando o futuro, Diogo Gouveia assinala que “a situação do sector da distribuição é manifestamente frágil e, neste sentido, as políticas de definição de preços dos medicamentos e de regulação do sector da saúde devem ser projectadas para contribuir para a sustentabilidade dos diversos agentes económicos, essenciais para continuar a garantir a acessibilidade dos cidadãos aos medicamentos, dispositivos médicos e produtos de saúde.”

O mercado dos medicamentos vendidos em farmácias reduziu cerca de 640 milhões de euros numa década, o que corresponde a uma queda de quase 23%, segundo um estudo divulgado hoje no Congresso Nacional da Distribuição Farmacêutica. A análise foi solicitada pela Associação de Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA), que se manifesta preocupada com “a sustentabilidade da cadeia de valor do medicamento”.

Os dados do estudo, desenvolvido pela Deloitte, indicam que entre 2008 e 2018 o mercado dos medicamentos vendidos em ambulatório decresceu em 642 milhões de euros, correspondendo a uma redução de 22,8%. Em termos de embalagens, tanto dos medicamentos sujeitos a receita como os de venda livre, em 2018 venderam-se menos 11 milhões de unidades do que em 2008, uma redução de 4%.