O investimento institucional no setor agroalimentar na Península Ibérica ultrapassou os 400 milhões de euros até maio deste ano, o que corresponde a metade do montante transacionado em 2024. Os dados são do “Agribusiness Iberian Report”, da CBRE, que aponta para uma retoma do mercado.

“Nos últimos anos, o investimento institucional tem sido impulsionado pela perspetiva de rentabilidades sólidas a longo prazo e pela oportunidade de construir portfólios diversificados. A previsão de concretização das operações adiadas no ano passado, aliada ao ajustamento das expectativas de preço entre compradores e vendedores, e a um setor cada vez mais especializado e profissionalizado, continuará a dinamizar o mercado, que conta cada vez com mais intervenientes envolvidos”, sustenta, em comunicado, Manuel Albuquerque, responsável pelo departamento de Agribusiness na CBRE no Sul da Europa (Espanha, Portugal e Itália).

Para este relatório, a CBRE analisou o perfil dos investidores no setor do agronegócio ibérico entre 2022 e 2024, mapeando mais de 500 intervenientes e o volume transacionado nesse período. E verificou que o capital institucional representa cerca de metade do investimento realizado na região, englobando três perfis principais: os fundos especializados em Agribusiness — criados especificamente para investir neste tipo de ativo e com equipas dedicadas —, que representam 25% do capital; os fundos generalistas, como private equity ou imobiliários com exposição a vários setores, que somam 14%; e os family offices, responsáveis por gerir o património de famílias ou de investidores de elevado património líquido, com uma maior preferência por tickets pequenos e médios, que respondem por 10%.

Por sua vez, os produtores industriais, que representam 51% do capital investido no setor ibérico nos últimos anos, não atuam numa lógica de investimento financeiro, mas sim numa perspetiva operacional. São, na sua maioria, empresas com raízes industriais — muitas vezes privadas ou de cariz familiar — que expandem a sua atividade no agronegócio como parte do seu crescimento estratégico, e não enquanto gestores de capital. Neste contexto, é frequente procurarem novas localizações para complementar a produção existente, como no caso da fruta fresca, alargando as janelas de colheita e reforçando a sua competitividade ao longo de todo o ano.

Este dinamismo do setor reflete-se também na diversidade das operações realizadas: mais de 40% das transações entre 2022 e 2024 foram inferiores a 10 milhões de euros, cerca de 40% situaram-se na faixa entre 10 e 50 milhões de euros, enquanto os investimentos superiores a 50 milhões representaram aproximadamente 20% do total. As transações acima de 100 milhões de euros constituíram uma parcela menor, evidenciando um mercado segmentado e com oportunidades para vários perfis de investidores.

“A Península Ibérica alcançou em 2024 o primeiro lugar na Europa em valor de produção agrícola, o que reforça o seu posicionamento como o mercado de investimento mais institucionalizado e atrativo a nível geoestratégico. A crescente profissionalização do setor está a abrir caminho a uma maior diversidade de investidores — desde produtores industriais com operação própria, a investidores imobiliários que compram para arrendar, até fundos financeiros como private equity ou fundos de pensões internacionais, com tickets que podem ultrapassar os 100 milhões de euros. Estes investidores procuram não só rentabilidade, mas também impacto positivo no capital natural”, contextualiza Manuel Albuquerque.