Quantas empresas já tiveram prejuízos financeiros porque os produtos não chegam nas devidas condições ao destino final ou, quando, por vezes, nem lá chegam? A resposta a esta pergunta pode sensibilizar alguns leitores, mas a boa notícia é que este problema pode ser evitado. O Centro Nacional de Embalagem (CNE), situado em Oeiras, é um organismo certificado que se dedica a ensaios físicos, mecânicos e químicos de embalagens, materiais de embalagem, etc., que tem como objetivo assegurar que os produtos chegam ao destino final em perfeitas condições. Margarida Alves, diretora, e Sérgio Valente, responsável de Laboratório de Ensaios Físicos e Mecânicos, aconselham que as empresas simulem o transporte dos seus produtos para evitarem prejuízos. Afinal, é melhor prevenir do que remediar.
O Centro Nacional de Embalagem (CNE), fundado em 1973, é uma associação sem fins lucrativos, e integra laboratórios de ensaios físicos e mecânicos (especializado no controlo de qualidade de embalagens, materiais de embalagens, produtos de grande consumo), e de química (especializado em ensaios de compatibilidade alimentar e outros). O CNE desenvolve atividades relacionadas com a qualidade e segurança, como realização de ensaios, certificação, normalização, assistência técnica, consultoria, auditorias, formação e informação.
“A nossa atividade principal é realizar ensaios, e damos muito apoio aos clientes para conseguir direcioná-los mediante as suas necessidades, desde caracterizações físicas e mecânicas até à compatibilidade alimentar”, indica a responsável. O CNE atua para todas as áreas e setores, como indústria agroalimentar, automóvel ou farmacêutica e, segundo Margarida Alves, o apoio da associação é importante para garantir a qualidade dos produtos dos fabricantes de embalagens, embaladores, utilizadores, e assegurar que as embalagens são adequadas aos produtos em termos físicos, químicos e mecânicos. A diretora aconselha à simulação em laboratório para “apostar na qualidade, em vez de nos custos da não-qualidade”.
Simulação de transporte
Sérgio Valente, responsável de Laboratório de Ensaios Físicos e Mecânicos, explica que o principal objetivo da simulação de transporte é perceber como a embalagem se irá comportar durante a viagem desde a sua origem até ao destino final. No processo de simulação são testados os possíveis efeitos que podem ocorrer durante o transporte. Desde logo existem os efeitos climáticos, que incluem a temperatura, ou a humidade do ar que, se for elevada, pode reduzir a resistência da caixa de cartão. O CNE assegura a simulação com temperaturas que vão desde -40ºC até 60ºC. Além destes, temos os efeitos de vibração, um fenómeno que ocorre sempre que um produto é movimentado, quer seja num porta-paletes, empilhador ou dentro de um camião. “A vibração é um fenómeno que não destrói a embalagem imediatamente, mas a acumulação de vários pequenos impactos cria fissuras em embalagens de plástico, e as de cartão também vão perdendo alguma da sua capacidade de resistência”, refere o responsável. Depois temos problemas com quedas, que podem ocorrer por distração no manuseamento de uma embalagem ou de uma palete carregada, ou mesmo durante o transporte, em que um camião faz uma travagem brusca e a carga movimenta-se de forma abrupta. Tudo isto pode criar danos nas embalagens e, em última instância, no produto.
“Portanto, a simulação de transporte é feita em laboratório, de forma controlada, registando todos os dados para, no final, apresentarmos um relatório ao cliente com os resultados – o que aconteceu à embalagem, se está em condições para ser transportada, se existem danos, etc. No final, o cliente faz a avaliação para perceber se a embalagem está de acordo com os seus critérios”, sublinha.
Visão em cadeia
Muitas empresas procuram fazer testes para perceber o comportamento do produto quando se pretende alterar materiais ou estruturas, por exemplo com a substituição de esferovite para cartão ou papel. No entanto, por vezes, estas alterações não têm o resultado esperado. “Uma empresa estava a estudar um produto que tinha um filme de plástico, e queriam mudar para materiais biodegradáveis. Fizemos o ensaio climático e o plástico agarrou-se ao produto. Não ficava sequer apto para comercializar”, conta Margarida Alves. Por outro lado, também já aconteceu comprometer o transporte de garrafas de azeite porque o cartão que as envolvia desfez-se por causa da humidade, e quando se movimentou a palete, uma das garrafas caiu pelo fundo da caixa e partiu-se. Comprometeu toda a carga.
Sérgio Valente e Margarida Alves consideram que há vários problemas que acontecem numa fase final da cadeia, que podem ser antecipados logo na fase inicial. Quando se projeta um produto, a embalagem de transporte deve logo ser considerada no início, pois, no momento final da cadeia em que é preciso transportar o produto, a embalagem selecionada pode não ser eficiente e, em último caso, danificar o produto. O que acontece é que algumas empresas querem uma embalagem universal para tudo o que pretendem transportar, mas esta tem de ser adaptada ao produto, até para reduzir espaços em vazio.
Todos os produtos têm as suas especificações, e este é o desafio do CNE. Margarida Alves e Sérgio Valente dizem que não há dois dias iguais, e que há sempre um desafio diferente. Há mais de 25 anos que fazem parte deste organismo que tem como principal função ajudar as empresas a anteciparem formas de não comprometerem os seus produtos. Uma etapa importante, mas pouco reconhecida nas cadeias de abastecimento.
Foto: PAR Design
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