No primeiro semestre de 2025, os riscos na supply chain foram de diversas tipologias e alguns deles antecipados por algumas instituições. Uma dessas tipologias foram os riscos geopolíticos.
Começando pela emergência de uma “uma nova ordem mundial”, com mudanças dos centros de poder e novas dinâmicas associadas, incluindo no âmbito das relações comerciais, observámos neste primeiro semestre a “guerra das tarifas”, iniciada pela Administração Trump, um aumento da competitividade entre os EUA e a China e uma Europa com dificuldade em mostrar-se e fazer-se ouvir (KPMG, 2025). Também a instabilidade política é visível nos resultados eleitorais de 2024 em vários países e na Alemanha em fevereiro deste ano, bem como a permanência e crescimento dos partidos extremistas no espectro político (Coface, 2025).
Adicionalmente às questões tarifárias, a crescente regulamentação de temas ESG, principalmente em matéria legislativa no quadro normativo europeu, nomeadamente através da Diretiva UE 2022/2464, de 14 de dezembro, relativa ao reporting da sustentabilidade corporativa e da Diretiva UE 2024/1760, de 13 de junho, relativa ao dever de diligência das empresas em matéria de sustentabilidade, bem como do Regulamento UE 2019/2088, de 27 de novembro, sobre a estratégia europeia de financiamento sustentável e do Regulamento UE 2020/852, de 18 de junho, relativo a taxonomia ambiental, colocam desafios crescentes às organizações.
Também o “cenário tecnológico politizado”, com a corrida ao armamento com recurso a inteligência artificial e o aumento do fosso de infraestruturas e recursos humanos nesta matéria (KPMG, 2025), é uma preocupação para os governos, organizações e empresas. Na conferência “Ctrl+Alt+Portugal – Reiniciar para Crescer”, realizada no passado dia 30 de junho pela Associação Business Roundtable Portugal (BRP), Durão Barroso abordou este tópico, identificando como urgente a necessidade de maior regulação da inteligência artificial em vários âmbitos, incluindo na perspetiva de defesa.
Os conflitos armados continuam a ser o maior risco global de 2025, de acordo com o Fórum Económico Mundial (WEF, 2025), e a traduzir-se em ameaças à supply chain, com a guerra Rússia-Ucrânia sem fim à vista, o conflito Israel-Hamas, que em junho deste ano alastrou ao Irão com ataques entre os dois Estados – Israel e Irão -, bem como a zonas territoriais limítrofes, incluindo Líbano, Síria e Iémen; os ataques Houthis no Iémen e no Mar Vermelho; a guerra civil na Síria, no Sudão do Sul e em Mianmar, entre outros pontos de tensão a nível mundial.
Por último, também as “pressões demográficas, tecnológicas e culturais sobre as forças de trabalho” têm impactos nas cadeias de abastecimento, nomeadamente na gestão estratégica de talento, na dificuldade de inclusão cultural, contratação de mão de obra e lideranças (KPMG, 2025), a par da fragmentação social, desigualdades, polarizações sociais e crises económicas (WEF, 2025).
O Mapa de Risco Global 2025, analisando riscos digitais, políticos, regulatórios, de segurança, operacionais e de integridade, revela que as áreas do globo com maior risco são o Médio Oriente, o norte e centro africano; na Europa, a região dos balcãs, Sérvia, Bósnia-Herzegovina e Rússia; e, na Ásia, a região do Mar do Sul da China e Taiwan, Coreia e Mianmar.
Bruna Martins, Purchasing Manager | Corticeira Amorim