Em 2022, o setor do calçado e artigos de pele exportou 2.347 milhões de euros, um novo máximo histórico e um crescimento de 22,2% face ao período homólogo do ano anterior. Segundo a informação avançada pela APICCAPS no seu site, todos os segmentos da fileira registaram crescimentos expressivos.
Portugal exportou 76 milhões de pares de calçado, no valor de 2.009 milhões de euros (pela primeira vez o setor ultrapassou barreira dos 2 mil milhões de euros). Comparativamente ao ano anterior, assinala-se um acréscimo de 10,5% em quantidade e 20,2% em valor. Face a 2019, as exportações estão já a crescer mais de 13,8%.
Numa análise mais fina à evolução das exportações, Portugal está a crescer em praticamente todos os mercados mais relevantes como Alemanha (crescimento de 11,7% para 433 milhões de euros), França (mais 15% para 384 milhões de euros) e Países Baixos (mais 25% para 306 milhões de euros)
Destaque para as vendas para países extracomunitários que já ascendem a 20% do total exportado (392 milhões de euros em 2022). Uma década antes, em 2012, os mercados extracomunitários significavam apenas 9% do total exportado. O Brexit contribuiu decisivamente para esses números, mas não justifica por si só este salto expressivo. A título de exemplo, no espaço de uma década, as exportações para os “states” passaram de 19 para 114 milhões de euros (crescimento de 52% só em 2022).
O preço médio do calçado exportado situou-se nos 26,40€, o que representa um crescimento de 8,7% face a 2021.
“O ano de 2022 foi de afirmação do calçado português nos mercados internacionais, para onde se destina mais de 95% da produção do setor”, considera Paulo Gonçalves. Ainda assim, de acordo com o porta-voz da APICCAPS, “foi um ano mais complexo do que os números à primeira vista faziam adivinhar, uma vez que aos efeitos da pandemia e à Guerra da Ucrânia se associaram outros fatores de incerteza, em especial a escassez de mão de obra qualificada, o aumento acentuado da inflação e os seus reflexos na política monetária, a emergência de novos canais de distribuição, a afirmação de novos concorrentes, as alterações nas preferências dos consumidores, as incertezas sobre a evolução do consumo e a disrupção nas cadeias de abastecimento internacionais”.
Também com um bom desempenho nos mercados externos está o setor de componentes para calçado. As exportações aumentaram 30,2% para 65 milhões de euros. O segmento “solas e saltos”, em particular, assinala um crescimento de 20% para 32 milhões de euros.
Nota de destaque para os crescimentos na Alemanha (mais 13% para 16 milhões de euros), França (mais 40% para 11 milhões de euros) e Espanha (mais 16% para 9 milhões de euros).
Artigos de pele batem novo recorde
O saber fazer acumulado ao longo de gerações e uma aposta recorrente na qualificação profissional parece ser um argumento competitivo de relevância para o setor de artigos de pele e marroquinaria. Em 2022, as exportações do setor atingiram um novo máximo histórico, apresentando um crescimento de 37,4% para 273 milhões de euros.
França (crescimento de 99% para 86 milhões de euros) e Espanha (mais 34,2% para 70 milhões de euros) foram determinantes para esse registo.
Não obstante, os bons resultados em 2022, o abrandamento económico generalizado está a causar alguma apreensão junto do universo do setor.
De acordo com o Boletim Trimestral de Conjuntura da APICCAPS, elaborado em parceria com o Centro de Estudos e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto, “a evolução da conjuntura da indústria portuguesa de calçado dá sinais de abrandamento”. Com efeito, “as empresas continuam a considerar o estado dos negócios positivo, mas a percentagem das que o consideram melhor do que um ano antes diminuiu”. De uma maneira geral, “as empresas de maior dimensão e com maior orientação exportadora fazem uma apreciação da situação mais favorável do que as restantes”.
No quarto trimestre do ano, a produção e o emprego ainda evoluíram positivamente, mas a carteira de encomendas teve “uma evolução menos favorável do que em trimestres anteriores”. Também a tendência para subida dos preços atenuou, quer em Portugal, quer nos mercados externos. A percentagem de empresas que afirmam debater-se com escassez de encomendas está a aumentar, “mas as preocupações empresariais são ainda lideradas pelo preço das matérias-primas e pela escassez de mão de obra qualificada”.
Refletindo a evolução da carteira de encomendas, de acordo com o Boletim de Conjuntura “as previsões dos inquiridos apontam para uma ligeira diminuição da produção, no início de 2023, e uma estabilização do estado dos negócios num nível satisfatório”. “O ano de 2023 será particularmente exigente para as empresas exportadoras”, prevê o porta-voz da APICCAPS, “face a um enquadramento macroeconómico internacional de alguma contenção”. “Importa por isso reforçar a atividade de promoção externa do setor, para que seja possível potenciar novas janelas de oportunidade”, concluiu Paulo Gonçalves.