Há muito tempo que não falo sobre motoristas. Mas é impossível ignorar o que se passa.
Faltam motoristas. Faltam condições. Falta atratividade para a nova geração.
E todos — repito, todos — vamos sentir as consequências.
Hoje, olhamos para esta profissão como algo do passado.
Pensem nisto: quantos de nós imaginam os nossos filhos a seguir esta carreira?
Poucos. Ou nenhuns.
A nova geração nem sequer considera entrar no setor.
- O investimento é alto.
- A formação é longa.
- Os horários são duros.
- A conciliação com a vida pessoal… quase impossível.
Na logística, a pressão também é cada vez maior. A exigência do cliente obriga a horários pouco comuns, atividade ao fim de semana e um ritmo que dificulta ter uma vida fora do trabalho.
E, no meio de tudo isto, há heróis invisíveis:
- Os motoristas que rodam Portugal (e a Europa) de ponta a ponta.
- Os gestores de tráfego que vivem entre o planeado e o imprevisível.
- As equipas de armazém e logística que fazem tudo acontecer… mesmo quando o sistema falha.
- São profissionais que trabalham 24/7, com atrasos, pressões, falhas alheias e uma carga emocional tremenda.
Mas… o setor está a tornar-se cada vez menos atrativo:
- Pelo stress.
- Pelos horários.
- Pela falta de reconhecimento.
E há um ponto que não podemos ignorar: Hoje, o setor continua a funcionar com relativa normalidade muito graças à imigração. Muitas das funções mais críticas e difíceis estão a ser asseguradas por pessoas que chegam de fora, com vontade de trabalhar e contribuir.
Num tempo em que tantas vezes se ouvem críticas à imigração, é importante reconhecer este papel essencial.
Sim, é necessário haver regras e controlo. Mas também é fundamental haver respeito e inclusão.
Sem este contributo, o impacto da escassez de mão de obra seria muito mais visível e grave.
Se queremos um futuro com bens nas prateleiras, medicamentos nas farmácias, comida nos restaurantes e produtos à porta… precisamos de agir agora.
Como podemos tornar o setor mais atrativo?
- Incentivos à formação;
- Redução do tempo para acesso à profissão;
- Condições reais de descanso e higiene;
- Reformulação de horários;
- Infraestruturas dignas;
- Vida pessoal possível.
Somos hábeis a reinventar produtos, processos e tecnologias. Está na hora de reinventar a base que move tudo isto: os transportes e a logística.
Deixo este texto como uma reflexão — e um apelo.
A quem gere. A quem decide. A quem comunica. A quem forma. A quem consome.
Precisamos de falar mais disto. Precisamos de agir antes que seja tarde.
Pedro Paiva | diretor de logística | Panidor