A persistente incerteza no fornecimento de cereais em Portugal mantém-se quatro meses após a suspensão do acordo no Mar Negro, como noticiado pelo jornal Expresso. Apesar da diminuição nos preços dos cereais, o país continua a enfrentar a escassez de stocks e desafios logísticos que ameaçam a segurança no abastecimento destes produtos essenciais.

A mais recente crise logística foi evidenciada quando um navio carregado com 80 mil toneladas de milho, proveniente da África do Sul, teve que ser desviado para a Arábia Saudita devido à deteção de fitofármacos acima dos limites permitidos pela União Europeia. Esta situação, relatada por uma fonte do setor ao Expresso, sublinha a urgência de soluções alternativas no processo de abastecimento. Duas principais preocupações emergem desta situação: a contínua falta de cereais ucranianos no mercado nacional, agravada pela suspensão do acordo no Mar Negro, levando a compras em outras origens, e a fragilidade da logística de abastecimento do país.

Jorge Neves, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis), alerta que “andamos sempre no fio da navalha. Não há stocks de segurança em Portugal como há noutros países. O Egito, por exemplo, tem stocks para seis meses, e a China tem o suficiente para um ano ou até mais”. Enquanto Portugal e outros países europeus procuram alternativas na América do Sul, especialmente no Brasil, um dos principais produtores mundiais, a Europa continua a ser o maior importador mundial de milho.

De acordo com alguns especialistas consultados pelo Expresso, apesar da diminuição dos preços do trigo e do milho desde o verão, refletindo uma adaptação do mercado à nova realidade, a persistente escassez de cereais ucranianos continua a afetar não só os mercados europeus, mas também países africanos vulneráveis, especialmente na região do Corno de África.

José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC), destacou a extrema volatilidade do mercado, influenciada por eventos globais como guerras. Razão pela qual se deve apostar, “no reforço e no incentivo à produção nacional e, por outro lado, numa maior segurança de abastecimento, nomeadamente com uma estratégia de armazenamento bem definida”.

O presidente da ANPOC acrescenta ainda que “os preços baixos agora registados se podem ficar a dever ao facto de a China ter deixado de comprar por ter stocks mais que suficientes. No entanto, tudo pode mudar de um dia para o outro”. Portugal enfrenta o desafio de equilibrar a dependência internacional com medidas internas para garantir a estabilidade no abastecimento de cereais.