Nos primeiros três meses de 2023, o segmento imobiliário logístico gerou um investimento de 23 milhões de euros, representando um decréscimo de 90% face ao período homólogo, pode ler-se no Dinheiro Vivo. De acordo com Nuno Torcato, diretor de Advisory & Transactions Industrial e Logística da CBRE, “quase todos os dias aparecem investidores à procura de ativos logísticos em Portugal”, mas esse interesse cai por terra, uma vez que há falta de produto.

Ainda que o último ano tenha sido de sucesso para a logística em Portugal, com o volume de transações a atingir o máximo histórico de 715 milhões de euros, os investimentos que estão agora em curso nesta área ainda não respondem às necessidades do mercado. Em 2024, ficará operacional um projeto em Benavente, prevê-se também o início do funcionamento de centros logísticos no Carregado, Montijo e Sinta, dois projetos em Gaia e Santo Tirso, e um parque em Valongo. No entanto, é necessário aguardar alguns meses para que estes investimentos estejam preparados para receber empresas, ainda que a forte procura e a escassa oferta já tenham resultado em “diversas manifestações de interesse para todos eles e, em alguns casos, negociações em fases bastante avançadas”, indica Nuno Torcato.

A crise financeira de 2008 até 2014 gerou esta carência de ativos logísticos, uma vez que levou os principais promotores a abandonar o país. Desde essa altura que o desenvolvimento de novos projetos “foi quase insignificante”, tendo contribuído para a formação de “stock obsoleto e completamente desajustado às necessidades da logística moderna”, refere o responsável. Contudo, a procura disparou no período pós-pandemia, e quase todos esses ativos foram ocupados.

A somar à demora dos processos de licenciamento, os investidores debatem-se agora com o aumento dos custos de construção e financiamento, potenciado pela falta de mão-de-obra. Nuno Torcato confessa que se torna “muito difícil que os projetos que estão neste momento a ser pensados, se tornem uma realidade”. Ainda assim, acredita que Portugal pode ser elevado a um polo logístico mundial devido à localização estratégica do país como ponto de ligação à América do Sul e EUA, à qualidade das infraestruturas portuárias e rodoviárias, e também dos recursos humanos.

O responsável indica ainda que os operadores consideram que o setor logístico em Portugal está numa fase de desenvolvimento muito mais embrionário do que a generalidade dos países da Europa e que, por isso, conseguem identificar oportunidades de valorização e crescimento muito superiores. “Nos últimos anos, quase todos os dias eram anunciados novos projetos logísticos e novas zonas de expansão de grande dimensão em Espanha, ao contrário de Portugal, onde nos últimos 20 anos quase não existiram novos desenvolvimentos”, salienta.

As rendas têm aumentado exponencialmente nos últimos três anos. Desde 2019, só na região de Lisboa, o valor médio registou aumentos superiores a 20%, e Nuno Torcato prevê que no final deste ano se verifique uma subida de 10%.