A Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) tem um plano de ação no valor de 600 milhões de euros, dedicados a aumentar em 50% as exportações portuguesas. Após uma análise aos consumidores externos e às suas tendências, a associação apresentou o Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030.
Em declarações ao Expresso, Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da APICCAPS, conta que “olhamos para o mundo, analisamos o nosso mercado-alvo e o perfil do consumidor dos sapatos portugueses. Percebemos que o mercado não é assim tão grande, mas ainda temos muita margem para crescer”. Segundo aponta à fonte, “apenas 9% da população mundial tem especial apetência por comprar sapatos produzidos em Portugal, o que significa que estão em causa 700 milhões de pessoas num universo de 8 mil milhões”.
Esta análise foi desenvolvida pelo CEGEA – Centro Estudos do Núcleo do Porto da Universidade Católica, e foi liderado por Alberto Castro. Embora estivesse pronta em 2020, devido à pandemia acabou por sofrer alguns ajustes, para adaptar-se à mudança sentida. A análise tem em conta estudos demográficos, padrões de consumo e tipologias de país, e perspetiva exportar 3 mil milhões de euros até 2030, mais 50% do valor estimado para 2022 (entre 1,9 e 2 mil milhões de euros).
Nas estimativas do estudo, chegou-se à conclusão de que os consumidores externos do calçado português têm um rendimento igual ou superior à média do PIB per capita dos países da OCDE em 2020, ou seja, aproximadamente 38.500 dólares, entre os quais se encontram, predominantemente, a Europa, América do Norte e leste da Ásia, com maior destaque no Japão e na Coreia do Sul.
Das três regiões, a mais dispersa (geográfica e culturalmente) é a do leste da Ásia, “o que constitui um obstáculo ao sucesso de uma estratégia que faz da flexibilidade e rapidez de resposta um dos seus atributos fundamentais”, notou a associação, destacando a dispersão geográfica dos principais polos de consumo da China.
Enquanto isso, os EUA têm apresentado um bom crescimento na última década, porém, tal como no caso do país mais populoso do mundo, essa dispersão também mostra ser um obstáculo.
“A prioridade para a promoção do calçado português terá que continuar a ser a Europa” – APICCAPS
No caso europeu, a APICCAPS considera que Portugal tem a vantagem geográfica, e consegue ser mais competitivo. “É aí que os eixos fundamentais da nossa estratégia, como a sustentabilidade e a flexibilidade e rapidez de resposta são mais valorizados. São esses mercados de que estamos mais próximos, geográfica e culturalmente, e com eles partilhamos a pertença à UE e tudo o que lhe é inerente”.
A associação considera ainda necessário ter em conta dois fatores fundamentais: “em primeiro lugar, defender, e, se possível, reforçar a posição do calçado português nos seus mercados tradicionais. Serem tradicionais não significa que sejam nossos. Os mercados nunca estão assegurados e, em cada estação, temos que conquistar de novo os clientes”.
Incluídos no Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030, estão projetos como a Academia Digital; um projeto âncora de empreendedorismo de marcas; um grupo de trabalho com instituições para a inclusão social; e ainda o “compromisso verde”, que irá reunir várias marcas de calçado num protocolo de sustentabilidade a iniciar já em 2023.
“Temos de nos distinguir com um pacto de coisas que inclui a inclusão e a responsabilidade social, a par da qualidade do produto, do preço justo, da produção sustentável”, apontou Paulo Gonçalves ao Expresso.
Luís Onofre, empresário e presidente da APICCAPS, mostra-se confiante de que o setor vai entrar numa década de crescimento, e afirma que “este plano é mais do que uma visão, é um compromisso do setor para aprofundar a sua competitividade a nível internacional e continuar a gerar valor para o nosso país”.
O responsável da associação diz que os desafios atuais “a escassez de mão de obra qualificada, o aumento acentuado da inflação e seus reflexos na política monetária, a emergência de novos canais de distribuição, a afirmação de novos concorrentes, as alterações nas preferências dos consumidores ou a incerteza sobre a evolução do consumo”, e considera ser “a solução que garante maior independência estratégica, sendo desejável que represente uma parcela crescente das exportações”.
“Dentro do esforço de progressão na cadeia de valor empreendido, [o setor] terá de reforçar a aposta na criatividade e na marca para posicionar os seus produtos”, conclui Luís Onofre.