Após a invasão da Ucrânia pela Rússia foram muitas as empresas que decidiram cortar laços com o país e as seguradoras acompanharam esta tendência excluindo a cobertura de exportações para a Federação Russa.

Apesar da grande mobilização internacional para isolar o país económica e comercialmente, já existiam muitas empresas portuguesas que tencionavam continuar ou até aumentar as suas exportações para o país. Esta decisão veio transtornar alguns setores que tinham como um dos grandes destinos a Rússia, que agora têm de tomar uma decisão: continuar e aceitar o risco ou terminar as suas relações comerciais e assumir o prejuízo.

Em entrevista ao jornal Público, a administração da COSEC, seguradora que protege as vendas ao exterior, admite que “desde que eclodiu o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e face ao agravamento da situação, as novas exportações para estes países e também para a Bielorrússia deixaram de estar cobertas por seguros de créditos”. Adiciona que “não existem nenhumas apólices em vigor abrangendo exportações para estes países”.

A razão desta decisão não está só relacionada com a falta de transporte e risco logístico, ou até o risco cambial e reputacional. Há que ter em conta a falta de seguros que cubram o “risco político”. Como frisa a COSEC “a generalidade das apólices não abrange a cobertura de risco político”. A seguradora Crédito y Caución, afirmou à mesma fonte que, relativamente à Rússia e Ucrânia “Qualquer nova cobertura ou envio de mercadorias sob uma cobertura existente será avaliada, caso a caso, respeitando as sanções impostas aplicáveis”.

Devido à falta de apólices que cubram o risco político, a COSEC explica que aquando da falta de pagamentos às empresas, relacionadas com as sanções económicas e comerciais implementadas pelos países ocidentais, nomeadamente transferências de pagamentos, estes não estarão sujeitos a indemnizações. O mesmo acontece no caso de infringência das sanções ou outras regras aplicáveis pelas próprias empresas.

No momento da invasão havia 70 empresas portuguesas a aguardar o pagamento de exportações à Rússia cobertas pela COSEC de vendas efetuadas antes do conflito.

Em entrevista à mesma fonte, a marca portuguesa de tecidos para decoração interior, Aldeco, confirma que a Rússia era um dos principais destinos para 2022 e que pretendiam duplicar o volume das exportações. O caso da Aldeco é um dos que decidiram aceitar o risco e continuar as relações comerciais com o país russo. A responsável da transportadora conclui, “Sabemos os constrangimentos que globalmente se estão a impor para dissuadir a Rússia a manter esta guerra. Mas também conhecemos as pessoas em causa que foram sempre parceiros do negócio. Um distribuidor tudo fará para promover os nossos bens pelo que não poderemos simplesmente gerar uma rutura e seguir com o negócio para outros mercados. Temos alguma preocupação com o crédito concedido, mas sabemos que independentemente da retirada dos bancos russos do SWIFT, o nosso representante assegurará os seus compromissos. Assim, ultrapassada esta questão, é nossa intenção manter a relação que construímos há tantos anos”.