Vai um pouco contra os ideais da indústria 4.0, mas a verdade é que a Calvelex, empresa portuguesa especializada na produção de vestuário para marcas de gama média-alta e luxo, está a desautomatizar a sua produção, apostando na arte de vender menos, mas com valor acrescentado, um sector onde o trabalho manual é cada vez mais valorizado. “Este ano, vamos fabricar menos peças e facturar mais 5%”, conta César Araújo, Administrador da Calvelex, ao Portugal Têxtil.

“Estamos a desautomatizar a nossa indústria. Estamos a fazer peças de pessoas para pessoas. Há clientes preparados para pagar um produto mais caro e que seja manual. Há clientes que pedem para colocarmos a etiqueta de marca à mão, há clientes que querem que os botões sejam pregados à mão… Quer dizer que as pessoas querem produtos manuais”, explica César, mostrando a aposta que tem vindo a ser feita pelos clientes na manufactura do têxtil em Portugal.

A empresa emprega cerca de 700 pessoas, e exporta cerca de 800 mil peças anualmente para todo o mundo, tendo vindo a investir na confecção, na área dos serviços, onde se encontra a preparar um novo pólo logístico para responder à procura, e está-se a preparar para já no próximo ano arrancar com um novo investimento em painéis fotovoltaicos, num valor entre 700 mil e um milhão de euros.

“Houve vários mercados que, durante muitos anos, desapareceram de Portugal, como os mercados alemão e francês, e que agora estão a voltar, calmamente. Têm visto que, efectivamente, Portugal tem uma qualidade superior a alguns países onde eles produziam”, explica.

Actualmente contam com dois pólos, um na Póvoa do Varzim, de 7 mil metros quadrados, e outro em Famalicão, com 6 mil, estando a planear a criação de um terceiro em Lustosa, na Lousada. Os principais mercados em que actuam são toda a Europa, EUA, Canadá, Coreia do Sul e Japão, e o responsável explica que prefere explorar aqueles em que estão inseridos ao invés de procurar entrar em novos. “Eu não quero mais mercados, porque o mercado não é uma bandeira”, afirma.

Procurando ser uma referência mundial em serviços, desenvolvimento de produto, inovação e transformação, a Calvelex, os investimentos feitos têm o objectivo de ser “o verdadeiro parceiro dos nossos clientes”, e embora os serviços de logística ainda representem apenas 10%, o responsável afirma que este número irá aumentar, devido às exigências dos clientes, “o cliente quer que prestemos tantos serviços, que é um dado adquirido que vai crescer”.