A economia circular está na ordem do dia. O tema, que para muitos tinha ares de ser só mais uma onda fashion, tem assumido lugar de destaque para empresas, governos e sociedade nas discussões que permeiam um modelo de pensamento económico do qual é, cada vez mais, difícil de desviar a atenção. E há uma razão quase trivial para tanto interesse: nos demos conta que, afinal, o modelo económico tradicional baseado no sistema linear “extrai-produz-consome-descarta”, não se sustenta. Pelo facto, simples, que nosso planeta não possui recursos naturais infinitos nem, tampouco, capacidade infinita de absorver aquilo que deitamos fora.

A Economia Circular e os seus “Rs” surgem, portanto, a instigar-nos a buscar maneiras de transitar do modelo económico tradicional para um que considere a finitude do planeta que temos.

Esse preâmbulo não tem a pretensão de detalhar a economia circular, mas, apenas, de prefaciar como a implementação das Compras Sustentáveis nas organizações pode auxiliar – e acelerar, até – a nossa caminhada para chegar a ela, já que a atividade de compras é fulcral em qualquer análise de produção/consumo.

Grande parte da receita de uma organização é despendida na sua cadeia de fornecimento. Portanto, as decisões de compra de uma organização, além de estarem diretamente relacionadas ao seu desempenho económico, refletem se na sua cadeia de fornecimento e impactam o ambiente e a sociedade na qual ela e seus fornecedores estão inseridos. É, portanto, crucial ter-se uma visão estratégica de sustentabilidade na hora de decidir, entre outros pontos, quando, o quê, de quem e como comprar, de modo a causar menor impacte ambiental e a promover o melhor desenvolvimento social e económico possível.

Em um processo de compras sustentáveis muitas das questões que tocam a Economia Circular são consideradas. Desde a definição das estratégias de fornecimento – costuma-se dizer, como exemplo, que a melhor decisão de compra é não comprar – até as decisões de reutilização ou descarte de produtos, passando por outros aspetos relevantes como design, materiais, cadeia de fornecimento, etc.

O uso de boas práticas e orientações já consolidadas pode ajudar as organizações neste percurso. A recém-publicada ISO20400 – Compras Sustentáveis é uma referência internacional recomendada e traz, de maneira pioneira, considerações explicitas sobre algumas questões que são caras à Economia Circular.

Gisele Villas Boas
Coordenadora da área de competitividade de RELAIS Internacional e sócia da Cyclesse
Especialista em sustentabilidade corporativa, inovação e TI