“Todos somos vendedores e todos somos compradores”. Há frases na vida que não se esquecem, porque apesar de serem aparentemente simples, transportam consigo uma realidade nua e crua.

Todos somos vendedores. Sim, porque até podemos nem estar ligados a uma área comercial, mas diariamente vendemos a nossa personalidade, o nosso valor, o nosso profissionalismo.

Todos somos compradores. Sim, porque diariamente tomamos decisões que impactam na nossa vida profissional e pessoal, “compramos” ideias, projetos ou simplesmente produtos ou serviços.

Mas teremos todos a capacidade de ser compradores profissionais?

Que competências, formação, características deveremos ter? E reconhecimento da função?

“Reza a lenda” que quem ia para as compras numa empresa, era quem não tinha capacidade para fazer mais nada.

Hoje em dia, isso é impossível, tendo em conta o grau de exigência que a função obriga, uma vez que o volume de tarefas e dificuldade inerente às mesmas obriga a que o comprador seja um especialista em várias áreas para poder ter sucesso diariamente.

E porquê? Porque desde o início do processo de pré-qualificação de fornecedores e seleção de quem a convidar para um concurso, quer no que respeita os riscos financeiros e reais capacidades de fornecimento, até ir ao ponto de se perceber quem são os fornecedores do nosso fornecedor para prevenir eventuais roturas ou incapacidades e saber se há alternativas, e no extremo programar uma auditoria, até às mesas de negociação, leilões, questões legais e contratuais. E mais importante, tomar decisões e assumir a responsabilidade das mesmas.

E tendo em consideração a pressão que existe hoje em dia para poupanças e cortes, e o facto de num grande numero de empresas não existir ainda o reconhecimento e suporte merecido por parte das administrações no que respeita a criticidade da função, será que nos vemos a desempenhá-la?

Porque se uma boa decisão pode significar poupanças/ganhos significativos para uma empresa, uma decisão menos boa pode dar origem a problemas de ordem ética (a título de exemplo, em Itália as empresas na grande maioria dos processos têm de apresentar um documento a comprovar que não trabalham para a máfia), prejudicar consideravelmente a imagem e renome da empresa e criar prejuízos financeiros ruinosos para a instituição.
Cada vez mais, a função compras deve ser encarada como estratégica e crítica para uma empresa, existindo a necessidade de ser reconhecida e suportada a nível de topo pelas respetivas administrações, quer na operação diária, quer na definição e planeamento a curto, médio e longo prazo.

Quereremos ser compradores profissionais? Claro que sim, porque quanto maior for o desafio, maior a possibilidade de mostrarmos a nossa qualidade e capacidade de trabalho.

Luis F. Jorge | Regional Vice-President, McGrath